Este livro é uma coletânea de contos primeiro vistos em revistas de fantasia e outros tipos de publicações especializadas que não temos no Brasil, mas que ainda são regulares na Europa. Como muitos, meu primeiro contato com o universo Witcher foi através do RPG que de tão bem construído me fez procurar a criação original.
São seis contos narrando o cotidiano do Bruxo Geralt, ou melhor dizendo, do caçador de monstros cujo conceito não nos é tão estranho, pois sua própria mitologia faz referência ao Frankenstein de Mary Shelley. Não se engane, o universo criado por Sapkowski pode parecer original aos olhos de quem nunca participou de uma campanha de RPG, contudo os monstros e a própria mitologia são adaptações do folclore europeu.
Um exemplo disso é o conto Um Grão de Veracidade em que o autor mistura o clássico A Bela e a Fera com uma variação de vampiros inexistente em terras tupiniquins. Isso não detrata em absoluto a obra; a história é bem conduzida e o tema central não é a apresentação de novos monstros, mas sim a jornada de Geralt.
Em nenhum momento, o personagem é retratado como um jovenzinho inexperiente. A proposta do autor é demonstrar como alguém preso entre dois mundos (humano e não-humano) tenta seguir uma ideologia - no caso, o código dos Bruxos. Geralt é alguém com moral, um filósofo bruto formado pelas observações e conhecimento empírico, e ainda assim otimista.
Esse é o mote que norteou as produções polonesas - Netflix não foi a primeira a trazer essa saga para as telas - as emoções e a dificuldade em equilibrá-las com a razão. Isso se reflete nas histórias tanto nas batalhas quanto no momento em que a decisão de não participar de tais é apresentada.
A escrita de Sapkowski parece variar com seu interesse no que está escrevendo, algumas passagens são belamente retratadas e as partes intimistas são descritivas, algo bem raro hoje em dia. É difícil dizer o quanto da repetição de certos termos são resultado do estilo do autor, de peculiaridades da língua polonesa ou da tradução.
A minha edição foi traduzida diretamente do polonês por Tomasz Barcinski e isso é ponto para a editora Martinfontes que fez um bom trabalho na produção, com papel de qualidade e capricho nas capas.
Recomendo.