Joel R. 12/01/2021
Hiroshi Hirata e o código extremo dos guerreiros de Satsuma
Que quadrinho fantástico e singular ! Fantástico por causa de suas ricas linhas de diálogo e singular por sua narrativa histórica e sem a necessidade de se apoiar em personagens principais. Na verdade, o personagem principal, trazido magistralmente pelo autor Hiroshi Hirata, é a personificação na figura do bushi (guerreiros no Japão que seguiam os preceitos da arte da espada) de Satsuma.
O retrato é de um período pós guerra, de aparente paz no Japão, no governo Tokugawa, onde a figura e importância do Samurai (Bushis que serviam a um mestre) consequentemente começava a ser contestada. O cenário, portanto, é perfeito para construção de boas estórias envolvendo alguns dilemas, pois a crise e o reconhecimento desses guerreiros em cheque pode gerar situações bem peculiares.
Como de praxe, principalmente para quem curte a cultura Samurai, Hirata inunda sua estória com práticas e características históricas bem interessantes. Uma prática que me chamou bastante atenção foi a do "Hiemontori", que inclusive da nome a um capítulo que é muito bom.
O capítulo 6, Disputa de Argumentos, é sensacional ! Sem precisar ter um pingo de ação, Hirata conseguiu demonstrar o quão poderoso é o código de conduta daqueles guerreiros. Apesar disso, mudanças e sacrifícios de ideais devem acontecer para um bem maior, e é pintado uma nova guerra, não entre samurais, mas entre samurais e a própria Natureza japonesa da época, por causa do problema constante de enchentes.
Com relação aos traços, apesar de manter as feições dos personagens bem parecidas, o foco está na agilidade que Hirata consegue trazer nas batalhas, o impacto das lutas e quadros bastantes expressivos corroborando com a narrativa de época. É impressionante, vendo a bibliografia do autor, a rapidez com que o mesmo produzia suas páginas em um tempo em que não existia processos facilitadores de produção como os de hoje.
Ao terminar de ler o quadrinho, a sensação de aprendizado histórico e de vida é gigantesca. O quadrinho é palco para discussão de muitos dilemas e há um convite interessante para uma releitura futura assim como abre espaço para sua continuação !