Nicolas904 16/07/2023
Quando eu era criança, Homem-Aranha foi a minha primeira história. Não, provavelmente não foi o primeiro filme que assisti ou o primeiro gibi que li. Porém, foi a primeira história que ressoou comigo e com a minha mente infantil de três, quatro anos de idade. Conforme fiquei mais velho, essa história só cresceu comigo e eu fui entendendo cada vez mais a responsabilidade de Peter. Ele nem sempre supera todos os obstáculos (aliás, ele quase nunca supera todos; no máximo, um vilão derrotado para cada Mary Jane de coração partido), o que não quer dizer que ele vai descontar no mundo suas frustrações.
Então, a ideia de "Life Story", contar o mito do Homem-Aranha como se ele tivesse surgido nos anos 60 e envelhecesse junto com os anos de mitologia da Marvel é fascinante para mim. Ver o Homem-Aranha considerar se ir ao Vietnã é uma responsabilidade maior do que os seus ideais pacifistas, considerar que o simbionte pode ser uma alternativa ao seu corpo cada vez mais velho e fraco, considerar largar tudo para ter uma vida em paz com uma família cada vez mais distante. Para mim, é assim que uma história do Homem-Aranha deve ser: uma eterna balança entre as responsabilidades do herói e de Peter. E que, às vezes, nem sempre dá certo. E está tudo bem. E o mundo vai continuar aí para que você, um dia, consiga alcançar seus objetivos ou até mesmo errar de novo e tentar de novo e de novo.
Um aviso: esse gibi não é necessariamente uma história fechada propriamente dita. Ela trabalha em uma cronologia alternativa que brinca com as histórias mais clássicas (e infames também) do Teioso. Dessa forma, eu não recomendo como um ponto de entrada para quadrinhos do Homem-Aranha e, sim, mas como um fim.
Em relação à arte, ela serve bem a história e consegue aplicar soluções visuais interessantes a esse mundo Marvel cada vez mais envelhecido, enquanto presta homenagens a toda a mitologia da editora (sim, não só a do Homem-Aranha), apesar do trabalho de cor não ser o meu favorito e parecer "forçar" um realismo que não está tão presente assim no traço em si.
Assim, Homem-Aranha: História de Vida não me fez sentir como uma criança de quatro anos de novo que brincava com o boneco do personagem no quarto, ou como um garoto de oito anos que começou a ler os gibis ou o adolescente de 16 que redescobriu os quadrinhos. Ele me fez sentir como um jovem de 19 anos ao ver um amigo que sempre o acompanhou, enfrentando problemas cotidianos e tomando esse caminho da vida junto com ele, acertando e errando.
E que venham mais histórias de Peter Parker para me acompanhar pelo resto dela.