César Belardi 21/06/2020
Obra Múltipla.
Este "Road Movie Comics" é uma colcha de retalhos muito melhor do que pode parecer. Não uso essa expressão da "colcha" de maneira negativa, ao contrário (nem o “RMC” que saiu espontaneamente). Essa obra me passa a sensação de uma plataforma inesgotável a se explorar, começando pelos bastidores. O caderno de entrevistas que finaliza essa HQ italiana é um estímulo a voltar cada página e rever tudo, desde o enredo até a arte.
Não é segredo algum de onde veio a inspiração: Christine! Sim, o carro assassino de Stephen King, possuído por um espírito ruim, que demonstra vontade - e crueldade - próprias. Para o Século XXI, a possessão deu lugar à inteligência artificial, o que não é muito diferente, no final da história.
O grande destaque é a arte. É um delírio! A leitura textual é bastante rápida, como os autores defendem, mas as imagens... podemos nos perder facilmente em uma página por um longo tempo, admirando o estilo, bastante diversificado e em rima com a narrativa.
Mas não precisa ficar só na leitura da HQ. Inesgotável, lembra? Segundo os autores, a história de "Monolith" começou como um filme. Não deu certo na primeira vez, então foi adaptada para o formato de álbum. Como as coisas nunca seguem um caminho reto, logo depois o filme foi aprovado e, hoje, temos um filme que virou história em quadrinhos que inspirou um filme... ou mais ou menos isso.
O filme ainda não está disponível aqui, para nós, oficialmente. Ele segue o argumento original, com algumas alterações que fazem do filme uma entidade própria. A ideia geral de um "Road Movie" está lá, com uma motivação fundamental que norteia as ações da protagonista, o que também ocorre na HQ. Não é um argumento simplório de conflito entre humanidade e tecnologia. A protagonista é alguém, não um recurso simples e aplainado para a narrativa de ação. E, neste ponto, a diversão começa! Ler a HQ, ver o filme, perceber como contam a mesma história, cada um na sua competência, no seu estilo. As diferenças que as fazem obras únicas. A maneira como conversam conosco. Principalmente, como saímos depois de entrarmos em contato com essa narrativa. Lembramos do quê, no final de tudo? Dos quadrinhos, do filme, das referências, ou da sensação que todo o conjunto nos proporcionou?
"Monolith" pode não ser uma obra-prima, um marco no seu estilo ou gênero, uma referência que será lembrada pela posteridade. Uma coisa ela é, sem dúvida alguma: divertida! Sim, a ação é séria, tensa, dramática, e nada disso a desqualifica como entretenimento de alto nível em suas diferentes linguagens.
O álbum é praticamente um storyboard, não tão didático quanto foi "Os Supremos" da Marvel, que tornou o universo dos super-heróis algo mais realista, a começar por trazer um Nick Fury menos genérico, antecipando em seis anos as cenas pós-créditos de "Homem de Ferro", com Samuel L. Jackson da maneira como foi retratado nas páginas dessa saga.
Procure e leia, assista, sem pressa. Aproveite cada instante para descobrir como quadrinhos e cinema conversam.
Ah, e um ponto fundamental, que não posso deixar passar sem reforçar... "Monolith" é uma produção italiana!
Quindi, divertiti con questo fumetti. Arrivederci, amici!