spoiler visualizarThalissa.Betineli 09/07/2021
Meu mangá favorito.
É muito difícil começar essa resenha, principalmente porque ainda sinto fortes emoções não pelo final, mas por tudo o que essa representou e representa para mim. Foram cinco anos acompanhando cada episódio, revendo cada cena, teorias e por fim, a leitura final do mangá em sua totalidade.
Isayama sem dúvidas é brilhante, me conquistou com suas reviravoltas e profundidade que até o próprio assumiu não saber administrar bem, tamanha responsabilidade e complexidade. E aí está o brilhantismo da obra: quando os personagens ganham do próprio autor.
Há cinco anos, quando tive meu primeiro contato com SNK, fiquei fascinada. Algo totalmente novo, com uma atmosfera sombria, pesada, triste, desesperançosa e também muito humana. Tão humana, que nos aproxima e nos conecta com cada personagem, até mesmo aquele que possivelmente odiaremos, também acabamos o compreendendo.
Para mim, SNK não fala apenas do ciclo de ódio, mas de ser humano. Sim, do ódio, da dor, da esperança, da vingança, do desespero, da ganância, da nobreza... Todos os sentimentos e atitudes de um ser humano.
Cada novo capítulo, o autor nos brindou com grandes revelações, reviravoltas, perdas que nos marcam para sempre, reflexões que nos chocam, e tristeza que enche nossos olhos de lágrimas. Muitas foram as perdas, muitos foram os ensinamentos, e um final que jamais imaginei.
Gostei? Não, pois para mim, foi bom e amargo. Bom por ver Levi vivo (meu favorito), por ter sido um "final feliz" para a maioria dos personagens. Amargo, porque esse final feliz foi às custas e também o objetivo de Eren se tornar aquele que deveria ser combatido por seus amigos. Não foi buscando a paz mundial, não houve nada tão nobre (e isso eu amei, foi coerente a um personagem impulsivo e levado por suas emoções cruas, que sempre lutou por sua própria liberdade, mesmo que isso custasse a liberdade dos outros). Achei o final extremamente coerente com o personagem, e por isso mesmo, também sofri e sofro. É algo tão pesado, tão brutal, que nos toca, que, quando revelado, por mais que não seja a maior reviravolta de todas para mim (pois acredito que a revelação de Marley existir e toda a vida de Grisha continuam sendo as maiores), ainda assim, foi um final digno para toda a jornada do herói de Eren.
No entanto, sinto que faltou preencher lacunas. Algumas que eu realmente buscava respostas, como por exemplo, uma explicação melhor e mais detalhada de como funcionavam os caminhos, afinal, o Coruja falou sobre Armin e Mikasa, e isso não foi nem citado depois. Também há os supostos sonhos estranhos e longos de Eren, em que ele acordava com lágrimas nos olhos. Podemos supor que ele estava visualizando seu futuro ali, vivendo os caminhos, mas não gostaria de supor, gostaria que o autor explanasse melhor sobre.
Senti que a história de Ymir como um relacionamento extremamente abusivo transformou e tirou um pouco o peso de guerra e história de domínio e humanidade, para história de amor, o que não cabe em SNK. Amei a ideia de ela ser escrava de um amor, mas ainda assim, senti que isso se distanciou da proposta final da obra, principalmente por ser um momento determinante para o final. Sinto que se tivessem mais uns 10 capítulos, o final teria sido perfeito. Este, dá a impressão que foi feito às pressas (e e eu odiei Gabi viva, me perdoem, mas eu não a perdoei, e até agora não entendi o motivo de o Levi estar com ela e o amigo... Eles nunca foram próximos, seria mais coerente Levi se aproximar de outros, não de dois adolescentes, mas enfim...).
Já fiz meus apontamentos do que me frustrou, agora irei ressaltar o que me fez e ainda faz chorar tamanha emoção: a dor e luta (tatakae) de Eren.
Ao parar para analisar toda a sua trajetória, eu sinto a sua dor. Eu sinto tanta tristeza que, quando eu assistir de novo o anime, chorarei com cada luta sua, com cada vitória, e com cada momento mágico que, possivelmente, ao revisar, ele teve que assistir ciente do seu desfecho.
O quanto podemos aguentar o peso dos nossos pecados? Eren aguentou! Aguentou ser aquele que mataria 80% da população mundial, que seria o suposto traidor e vilão, para tornar seus amigos os heróis, para dar a eles um pouco de paz, mesmo que isso jamais quebrasse o ciclo de ódio. E realmente, no final, descobrimos que não quebrou, o que parte meu coração ainda mais.
Em momento algum apoio sua decisão, afinal, ele cometeu a maior chacina da obra, mas ainda assim, o autor o criou com tanta profundidade que, mesmo não o apoiando, nós o compreendemos. E eu sinto compaixão por ele. Compaixão por imaginar que, a partir do momento que ele teve acesso aos poderes do fundador + ataque ao tocar na História, ele pôde viajar ao passado e ser o causador da própria dor. Assistir a si mesmo como criança feliz, ver o sorriso que ele perderia no futuro, e levar Dina até a mãe dele. Depois, fazer seu pai comer a família real, acompanhar toda a sua trajetória de luta, sofrimento e também vitórias, ciente de que, o jovem cheio de esperanças que está vendo, as perderá quando visualizar seu próprio futuro... E avançar, o tempo todo, para ele, mesmo que não saiba qual o desfecho certo, só sabe que Mikasa o parará... Que talvez seja a única maneira que ele encontrou.
É tão brutal e tão humano. É o tom da obra. E Eren cumpriu até o seu final. Por mais que algumas pessoas achem incoerente ele se confessar sobre Mikasa para Armin, até ali, eu achei tão o Eren. Aquele que colocou seus objetivos na frente de si mesmo, que foi egoísta até consigo mesmo, e que assim como sua mãe, nos momentos finais, também não queria morrer, mas foi de encontro a morte.
Eren foi assim, ele mesmo diz que queria viver, que queria ficar com Armin e Mikasa.
Que ele amava Mikasa, e deu a ela até memórias boas, mas que seu objetivo sempre foi aquele final, e já não importava mais seus sentimentos. O quanto ele não sofreu até ter sua cabeça cortada? O quanto não doeu se assistir desde o começo, ciente de que agora ele sabia os desfechos?
As faces do ser humano não só boas. São cruéis também. E Eren nos mostrou isso, todos os personagens, em determinados momentos, revelaram esse lado. Eren se tornou o vilão da humanidade e da própria vida, e terminou com ela assim, porque para ele, foi preciso. Mas todos nós, no fundo, não somos vilões de nós mesmos?
SNK para mim é uma obra completa, que peca no final por ser tão complexa e não conseguir finalizar toda a sua complexidade. Manteve pontos no escuro, e outros que divagaram. No entanto, isso não tira o brilho ou o peso desse mangá, a temática e o significado do final.
Sobre os capítulos extras, trouxeram ainda mais crueldade para a obra: Paradis destruída séculos depois, e talvez um encontro novo da humidade com o poder de titã. Não gostaria que houvesse continuação, pois para mim, SNK é sobre os personagens, e eles já cumpriram seus papéis. O final poderia realmente ficar em aberto, como é a nossa vida: nunca saberemos o que acontecerá amanhã. Se estaremos aqui ou não.
Por fim, Shingeki entregou tudo, desde mortes heróicas, batalhas épicas, tristeza que nos faz chorar, e um sorriso agridoce por ver alguns personagens felizes, enquanto outros, viverão para sempre em nossos corações.
Parabéns ao autor pelo brilhantismo!