Eduardo Rockwell 23/01/2023
A ESPERANÇA SEMPRE DOEU, POIS SE ESTAMOS PRECISANDO DELA...
Você tem medo de ir para o inferno? Ou então acha que não tem os requisitos necessários para conseguir entrar no paraíso? Eu tenho uma notícia pra te dar. Tudo o que você precisa é se PURIFICAR.
Vamos lá. Termino aqui a discussão que iniciei na resenha do primeiro volume, então recomendo dar uma olhadinha lá primeiro.
Após termos atravessado todo o inferno, conhecido os pecados que levaram as pessoas até lá, e presenciado suas sentenças eternas, conhecemos um Lúcifer de contexto decepcionante. Mas tudo bem vai, só iremos usar seu corpo para sairmos de lá. E que alívio que dá!
A partir daí, tudo se mostrou inédito pra mim, e todo o conceito aplicado ao purgatório fascinou de algum modo.
Pela primeira vez consegui enxergar entretenimento no que eu lia, e muito disso se deu pela carga ficcional mais robusta das adaptações seguintes, pois vemos muitos nomes históricos surgirem no decorrer da leitura de "Purgatório" e "Paraíso".
O purgatório nada mais é que um inferno "mais de boas", "sem tanta maldade" e livre de demônios, onde você terá a chance de acessar o paraíso caso consiga purificar seus pecados e encontrar seu caminho. E como se faz isso? Cumprindo uma dura pena de acordo com o seu pecado. Não, nada fica mais fácil aqui, só é menos pior.
Foi aqui que toda a aflição do primeiro livro pareceu distante demais da realidade doutrinatória religiosa. Por quê?
Apenas por se arrepender de seus pecados e pedir perdão instantes antes do momento de sua morte, você poderá se livrar do inferno, e passará para esse outro lugar, onde vai ter que trabalhar melhor esse arrependimento. E pra mim isso pareceu fácil demais, se formos comparar tudo o que se exige para chegar ao céu. Sim, você vai sofrer de qualquer forma caso não vá parar diretamente lá, mas não vejo coerência nessa situação. E nem em muita coisa ligada a religião.
Talvez eu esteja errado e acabe pagando por isso cumprindo uma sentença eterna no inferno, ou se tiver tempo de me arrepender no momento da morte, me purifique no purgatório e vá para o céu, mas tenho certeza que não terá mais fé envolvida nisso do que medo. O medo de pagar pra vê o que existe do outro lado da vida pega qualquer um.
Não tenho forças pra discutir mais sobre religião depois de tudo que foi dito, mas esse mangá aqui é melhor que o primeiro de alguma forma. Não sei dizer o porquê. Talvez porque é o que exala mais espereça, e essa sim pode mover um mundo inteiro, sem que tenhamos que renegar quem somos, pelo menos se for isso o que quisermos.
A fé move montanhas, move a imaginação das pessoas, mexe com seus medos, suas vontades, as fazem negar a si mesmas, e tudo isso por uma recompensa ao final. O caminho é um só, é estreito e árduo, mas naturalmente já não somos nada, erramos cada dia mais do que aprendemos, somos nada se comparados a grandiosidade do universo e sua complexidade, mas é essencial não anular nossa existência por completo, afinal, fomos comtemplados com a dádiva da vida, temos a oportunidade de vivê-la, não é qualquer coisa, é A COISA que você está fazendo nesse exato momento, VIVER.
Viver seria maravilhoso se não tivéssemos a maldade incrustada no mundo, mas ainda assim é muito bom, se você não acha, é porque ainda não se encontrou, não se empoderou da liberdade que tem ou infelizmente é uma vítima da crueldade social.
Eu sei o ódio que a maldade causa nas pessoas, a sede por justiça é insaciável, mas a maldade extrema e eterna só parece cruel, e não uma punição com a missão de instruir vidas. Porque não extinguir a existência dos maus (seja no lago de fogo mesmo) e acabar com o mal de uma vez por todas? Pra quê nutrir um inferno e tanta maldade?
Eu não sei, temos muito a evoluir ainda. O purgatório parece até uma saída melhor que o inferno, mas exala um ar de ficção não finalizada, ou então que pensaram num pilar religioso muito tempo depois da própria religião já estar consolidada. Inclusive é o que penso por vezes, que a religião foi fundada muitos anos atrás afim de domar a ferocidade humana, que sabemos, não tem limites.
Toda essa redação (peço minhas sinceras desculpas) chega ao fim quando chegamos na parte do "Paraíso", a parte que mais destoa do resto da obra, pois fica claro desde o começo (e principalmente no fim) que nada aqui deve ser levado a sério, uma verdadeira mistura de religião, astronomia, cultura romana e afins.
Toda a discussão de Inferno e Purgatório mexe muito com nossa cabeça, julgamos muito, a nós e aos outros, não sabemos o que pensar na maioria das vezes e essa imersão nos rodeia com medo e angústia, mas Paraíso é apenas um grande final feliz ficcional. Conhecemos um paraíso muito louco e que se encontra no céu de cada planeta do sistema solar, que você será enviado de acordo com o patamar do paraíso que sua alma conquistou. SIM, ISSO MESMO.
As aparições, os anjos, a luz, os diálogos, tudo muito feliz, para enfim conhecermos, não por completo, mas uma parte, do grande galardão.
É para estarmos lá que sofremos toda uma vida por aqui, certo?