Vinicius.Dias 23/02/2023
Uma bela HQ para um grande personagem
Se alguém nunca ouviu falar no bom e velho marujo Popeye, tem alguma coisa errada. Esse personagem está presente, animando e entretendo crianças desde os anos 70 e não parece estar próximo de parar. Muito provavelmente Popeye, Olívia Palito, Gugu e Brutos ajudaram a acalmar e distrair nossos avós, pais, e tudo indica, continuará fazendo o mesmo por nossos filhos, netos? por aí vai!
Antes de começar, tem algumas curiosidades bem legais que vale citar: o nosso herói não nasceu protagonista, mas sim um personagem coadjuvante em uma revistinha que já tinha pelo menos 10 anos de publicações. Ela contava um pouco da vida da família da Olívia Palito e, durante o arco em que o seu irmão trambiqueiro estava em busca de um tesouro, o marujo apareceu. Acontece que por conta de seu sarcasmo e frases marcantes, acabou caindo na graça das pessoas e, em 1931, Popeye assumiu o protagonismo da revistinha e de lá pra cá nunca mais saiu. Outra curiosidade interessante é sobre o vilão Brutos. Antes ele era conhecido como Blutos e havia aparecido apenas em 10 publicações, mas foi graças ao desenho animado que ele subiu de um vilão pouco lembrado para o mais importante deles. Ah, e para não deixar passar batido, o Popeye é um personagem inspirado em alguém real, um velho marujo brigão do cais de Nova York que nunca recebeu nenhuma compensação financeira pela inspiração. Vai vendo!
Falando sobre a HQ, com roteiro afiadíssimo do francês Ozanam e uma bela arte em aquarela do brasileiro Lelis, acompanhamos uma releitura da origem do personagem. Diferentemente de como foi lá em 1929, aqui, o protagonista é o Popeye e aos poucos, somos apresentados a outros personagens e entendemos um pouco mais de suas relações e como chegaram até ali. Descobrimos o porquê de sua alimentação baseada em espinafre; o motivo de seu apelido: Popeye; as desavenças com Brutos; a relação complicada com o seu pai; o início do relacionamento com Olívia; e, como aconteceu a adoção do pequeno Gugu. Só com isso, já parece ter bastante coisa, né? Acontece que como pano de fundo e um roteiro extremamento atual, ainda somos brindados com temas mega relevantes como: pesca predatória, empoderamento feminino, condições desumanas de trabalho para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, fome, desemprego, ganância, alcoolismo e abandono paterno. Tudo isso em meio a uma melancolia e sentimentalismo que chegam quase a serem palpáveis.
Falando um pouco sobre a arte, achei a paleta de cores muito bonita, além de ser feita em aquarela, o que potencializa a melancolia do roteiro. A única coisa que acabou me incomodando um pouco foi o traçado trêmulo. Em alguns momentos, onde havia muita informação no quadro, acabava misturando e poluindo um pouco mais do que gostaria. Não é algo que incomode, mas em alguns momentos me pareceu exagerado.
Foi lançado em uma edição de capa dura pela Skript Editora e acabou me surpreendendo mais do que esperava, achei o Popeye um personagem super humano, com problemas, sofrimentos e dores, mas com um coração do tamanho dos mares que velejava diariamente. Além disso, os temas citados ali em cima não são enfiados goela abaixo do leitor, porém estão presentes para quem quiser ver. A estória é triste, mas real e foi pincelada com toques de esperança e recomeço. Uma bela HQ para um grande personagem.
?Gente como a gente, ou trabalha ou morre. Quando não morre trabalhando? - Bosco