spoiler visualizarBabi 17/07/2022
Por favor, não comecem a chamar de anjo azul. Nós somos bem mais que isso.
Desde que eu vi o vídeo da Pipoca e nanquim sobre a obra, fiquei muito curiosa sobre como seria. Embora a representação de pessoas com TEA na mídia siga dois extremos - o gênio, ou aquele que precisa de auxílio constante em atividades básicas - muito me interessou o olhar da irmã do Jun e saber como era a realidade na Coréia do Sul.
No Brasil, enquanto pessoas no espectro autista, nós temos alguns direitos assegurados, e essa obra foi um lembrete marcante de que nossos direitos não são eternos e precisamos lutar para mantê-los. Ver o quanto ele sofreu nas escolas sem auxílio especializado, com sua mãe fazendo esse papel, assim como as dificuldades que a família precisou enfrentar financeiramente porque não tinham qualquer ajuda só mostram como a nossa situação aqui no Brasil, onde temos os assistentes assegurados por lei, assim como auxílio financeiro, se necessário (desconsidero, por um momento, a dificuldade que ainda existe entre a legislação e seu cumprimento total), e que isso em algum momento pode só não existir mais.
Além desses pontos, foi crucial ver a família precisando se virar como possível sem auxílio para eles mesmos, sem perspectivas para os cuidadores, e essa irmã que foi criando seus caminhos se sentindo sempre na sombra, e nenhuma ajuda psicológica foi provida para essas pessoas, o que é uma realidade comum. Para além da discussão de como é absurdo o julgamento que eles recebiam, pois não adianta tratarmos com gentileza essa questão, as pessoas sabem de seus julgamentos e o fazem de forma consciente, desconsideram intencionalmente a existência de alguém que irá sofrer com aquilo, também foi um duro lembrete de como nossas vivências ainda precisam de muita luta.
Por fim, é maravilhoso que o Jun tenha tido acesso a algo que ele ama, que possa ter seu hiperfoco trabalhado de forma tão bela e que transmita para as demais pessoas sua paixão pela música. O que eu amei no manwha é que o Jun também não almeja ser um herói, um anjo azul. Nós só almejamos sermos lembrados e vistos como as pessoas que somos, com nossas singularidades, com o suporte que precisamos mas que os demais nos enxerguem e nos aceitem como pessoas, nem como anjos, nem como demônios, mas humanos.
(Ah, e 10000 estrelas pro pessoal da editora que além dessa edição incrível, não usou quebra-cabeças em nenhum momento, respeitando a obra original, o pipoca nunca erra e se errou foi tentando acertar hahaha)