Djeison.Hoerlle 05/01/2023
Em 2023 fecharei meu quarto ano como leitor de quadrinhos. Desde o início, minhas leituras sempre foram muito apoiadas por reviews de youtubers e indicações de pessoas cujas opiniões eu realmente respeito, de forma que eu acabei lendo muitos materiais incríveis ao longo desse período. Mas Bojeffries não foi um deles.
Não é que seja ruim, obviamente estamos falando de Alan Moore, e pulando as rotineiras "chovidas no molhado" de quando falamos sobre o mago, é justo afirmar que até mesmo seus materiais menos cultuados costumam provocar pelo menos uma ou outra boa reflexão, além de quase sempre apresentarem conceitos interessantes.
E no caso de Bojeffries, uma história cujo ênfase é na comicidade, acho que o Moore nem tentou muito. Há, de fato, muitas críticas à sociedade e política do período de publicação original, mas nada que Moore ainda não tivesse feito, e de forma muito melhor.
Sobre a estrutura da publicação, trata-se de uma coletânea de histórias curtas (em torno de 10 páginas), as quais apenas as duas ou três primeiras dedicam-se a apresentar os personagens, passando então a uma sequência de esquetes que não seguem nenhum fio narrativo, e que vão gradativamente rompendo com o caráter crítico do texto, dando lugar a um tom cada vez mais non-sense.
Inclusive, vale destacar que Bojeffries lembra demais uma adaptação de esquetes do Monthy Python para quadrinhos. Esse texto debilmente ácido é a marca registrada do programa inglês e Moore o replicou com precisão. O problema, entrando no âmbito do gosto pessoal, é que embora eu tenha tentado ver o lado bom da coisa, acabei nunca conseguindo ser verdadeiramente cativado. Do Alan Moore, no entanto, gostei de quase tudo, então fica um gosto um pouco amargo de vê-lo produzindo algo que parece desconjuntado das suas melhores qualidades e méritos enquanto contador de histórias.
Sobre as ilustrações de Steve Parkhouse, é inegável que sejam bonitas e deem a atmosfera certa para a história, captando bem aquela Inglaterra industrial e suja. Mas ainda assim, parece mais um daqueles casos bem comuns em quadrinhos underground em que, na ânsia por detalhar tanto, acaba causando, vez ou outra, uma certa vertigem ao leitor, que não sabe para onde olhar primeiro. Ou talvez seja só minha visão se deteriorando por anos de leitura no escuro.
Uma menção honrosa que merece ser feita é à tradução de Leandro Luigi Del Manto, que apesar da especificidade de certas tiradas de Moore, consegue mantê-las acessíveis ao leitor brasileiro.
No fim das contas, acho que não é um quadrinho que eu indicaria, mas também não é algo que eu indicaria não indicar. Para alguns, provavelmente será ouro, mas não para todos, definitivamente.