Pretti 06/03/2022
Uma espiral psicológica
Talvez já tenham notado por aí que março começou com uma temática de quadrinhos. Não pretendo seguir nessa toada até o fim do mês - até porque vou reler o Esperando Godot para discussão no Clube de Leitura Bons Casmurros em 26/03, mas me deixei levar pela brincadeira de ler vários quadrinhos na sequência, para variar um pouco das leituras anteriores.
Talco de vidro tinha sido recomendaro duas vezes para mim, nos dois casos com indicação de parecença entre meus contos e o quadrinho. Tentei ler uma vez, num arquivo virtual, e não deu. Agora, com o quadrinho físico, a coisa fluiu e terminei em um dia.
A história tem uma pegada de thriller psicológico e realmente tem um diálogo com meus textos por explorar uns conflitos internos um tanto imprecisos de personagens femininas. A protagonista, Rosângela, dentista de classe média-alta, é movida por um "je ne sais quoi" cujo estopim é dado pelo sorriso de sua prima, mais pobre, mas, na visão de Rosângela, mais "completa" ou mais "realizada". Existe uma espécie de inveja intensa e uma necessidade de marcar sua posição superior em relação à prima que leva Rosângela a situações as mais extremas.
Gostei muito da construção das personagens e da construção da narrativa. A única coisa que me incomodou foi a voz narradora. Vacilante e imprecisa, acho que teria me convencido mais se tivesse sido atribuída a alguém (quem, afinal, conta a história de Rosângela? Saber disso talvez me fizesse gostar mais dessa voz e da dificuldade que ela tem de dar conta do que Rosângela sente em relação à prima).
Mesmo assim, vale a leitura. Recomendo!
Nota: ????