A Saga do Monstro do Pântano - Livro Quatro

A Saga do Monstro do Pântano - Livro Quatro



Resenhas - A Saga do Monstro do Pântano


7 encontrados | exibindo 1 a 7


André Aquino 24/03/2024

Finalização de Gótico americano
Aqui se encerra a fase gótico americano, e é genial.
Incrível como roteiro e arte casam tão bem, os desenhos são de uma dinâmica espetacular.
comentários(0)comente



Paulo 22/12/2022

Nesta quarta edição chegamos ao encerramento do segundo ato da saga de Alan Moore, Gótico Americano. Vale a pena curtir essa edição para ver como o Mago das Palavras se sai com uma série mais longa. Gosto de ver como ele planeja edição a edição, soltando pistas aqui ou ali para amarrar em um ponto climático mais tarde. Isso sem a necessidade dos famosos arcos que se tornaram o padrão hoje em dia. Ele conseguia entregar histórias fechadas (e muito bem fechadas) em uma ou duas edições. Ao mesmo tempo, o leitor era capaz de perceber que havia algo maior se formando no fundo e que a cada edição mais e mais revelações eram entregues a ele. Moore não testa a inteligência do leitor; pelo contrário, ele o incentiva a sair da zona de conforto e pesquisar sobre as várias coisas que ele deixa nos diálogos ou as citações de fundo. Qualquer edição é muito mais do que ela transparece em sua superfície. É possível ficar apenas com o creme, mas se o leitor for interessado, ele vai perceber que o recheio é tão melhor.

O roteiro de Moore está afiadíssimo, ainda mais por essa ser uma edição de desfechos e continuidades. Ao mesmo tempo, ele consegue nos entregar duas histórias iniciais fantásticas que fazem críticas sociais bastante situadas em sua época, mas que reverberam até os dias de hoje. Apesar de ser O Conjuro e Fim as duas histórias mais importantes desta edição, a que ficou mais conhecida foi O Parlamento das Árvores justamente por ela ser tão fundamental para a mitologia do personagem. E o leitor percebe que nada é por acaso e quando ele relê edições anteriores é recompensado com um novo nível de compreensão. Gosto demais do roteiro do Moore por ele ter um pé maior no literário do que nos quadrinhos. Muitos reclamam do excesso de textos do Moore, algo que já aludi em resenhas passadas. Sinceramente: uma HQ como essa deve ser lida com calma e atenção, absorvendo os detalhes e referências. Não há pressa para ler isso. A forma como Moore conduz seus diálogos mostra o seu cuidado com a concatenação de palavras, com seu significado maior. Aproveito para parabenizar o tradutor, Edu Tanaka, por ter mantido a essência do que Moore escreve. Não deve ter sido fácil traduzi-lo, principalmente os trechos finais. Faço ideia de como deve ter sido fazer isso principalmente com Etrigan e os demônios rimadores. Mas, deixo para falar isso mais à frente.

Dessa vez vou optar por falar de três histórias, caso contrário a resenha vai ficar enorme. E escolho começar pela primeira, E o Vento Trouxe, que pega mais essa vibe do Moore de críticas sociais. Na história temos um homem que encontra um estranho fruto no pântano e leva consigo. Mal sabe ele que esses frutos são despejados pelo Monstro do Pântano enquanto caminha e possui um efeito alucinógeno. O personagem é um hippie que ganha a vida vendendo substâncias com esse tipo de efeito, ou seja, é um traficante de drogas especiais. Duas pessoas acabam levando pedaços do fruto: um homem desesperado para encontrar alguma droga que possa servir para abafar as dores finais de sua esposa que está morrendo; e um aproveitador e malandro que quer um pouco de drogas para curtir uma farra com os amigos. Os resultados são bem diferentes.

Aqui temos a sagacidade do Moore de colocar o personagem que dá título ao quadrinho como meramente periférico e secundário para essa história. O roteiro gira no fornecedor de drogas e nas pessoas que tem contato com os frutos. Aqui é bem patente a inspiração de Moore nas obras de Aldous Huxley como As Portas da Percepção ou em Philip K, Dick e seu Ubik. A concepção de bem e mal de Moore é bastante fluida e nos mostra como ela depende do caráter daquele que entra em contato com os produtos. Ou seja, não há um maniqueísmo em seus roteiros ou sequer um julgamento de sua parte. Cabe ao leitor julgar como ele vê ou simplesmente não julgar e fazer uma autorreflexão. Cabe destacar o que acontece lá pelo final quando o fornecedor se vê com a oportunidade de consumir os frutos que ele colheu, mas pensa se deve ou não fazê-lo visto as duas situações com as quais ele tem contato. Será ele digno de poder consumir o fruto e abrir as portas de sua mente ou ele apenas é mais um hipócrita deste mundo decaído?

Essas edições que levam até o número cinquenta são as últimas desenhadas por Totleben que não consegue manter os prazos apertados de uma revista mensal. Nesse número, Ron Randall assume a arte e consegue manter o nível lá em cima. Ele alopra nas cores, principalmente quando as duas pessoas começam a ter alucinações. Até a quadrinização é bastante irregular e tem umas brincadeiras com sobreposições e ausências que é de cair em queixo. Não vou cansar de dizer isso, mas estamos falando da década de 1980 e tem muito desenhista que não faz metade do que esses caras faziam há quase quarenta anos. Tem um par de páginas que mostram a alucinação do bandido e o da mulher, e a do bandido é toda estranha, com o rosto se desfazendo e ele se transformando em outra coisa como se fosse uma gosma ou uma substância estranha. Por outro lado, a mulher abre seu olhar e o mundo parece repleto de novas nuances e complexidades, até com as cores sendo mais brilhantes e ela podendo enxergar por dentro dos vasos sanguíneos da existência. Pensar que dois tipos de páginas tão diferentes foram desenhadas pelo mesmo artista é uma aula de arte. Sem falar nos detalhe presentes no fundo. Randall consegue sair do brilhante ao apavorante em segundos.

Queria falar de Revoada de Corvos, mas vou falar de O Parlamento das Árvores porque... não tem como ignorar essa edição. Que coisa linda! Também conta com a arte de Stan Woch e Ron Randall. Vou inverter as coisas e falar primeiro da arte. Não há uma indicação clara sobre quem fez os trechos como se fosse uma série de fotos sequenciais, mas a ideia foi genial. Mostra realmente uma pessoa que tirava fotos enquanto observava pássaros e de repente vê alguma coisa que tira sua atenção. As fotos são sequenciadas e o artista faz um ótimo uso do preto e branco. Dá para ver os traços finos da pena realçando cada detalhe. E diga-se de passagem: como eles conseguiram tornar a Abigail uma personagem sexy, sem ser vulgar. Não é nenhuma bombshell, mas caramba. Sem falar na pequena sequência de quadros verticais em que ela está tendo seu momento de romance com o Monstro: absolutamente belo e íntimo ao mesmo tempo. Repito: sem nenhuma apelação a sexualizar a personagem nem nada. Toda a cena explode sedução. Mas, a arte não fica só nisso e temos toda a sequência do Parlamento das Árvores onde o Monstro finalmente encontra respostas para suas perguntas. A arte mostra toda a enorme variedade da flora da região, já que cada um dos Monstros anteriores vieram de diferentes partes do planeta. Sem falar nos pequenos mementos que fazem parte da história particular de cada um como o pequeno aviãozinho com a cruz de ferro que faz lembrar a história daquela árvore em particular.

Volto a comentar o quanto Tatjana Wood é um monstro na colorização. Todo esse número é baseado na exploração do verde e ela consegue obter ótimos resultados saindo bem pouco de uma alternância entre cores arbóreas. Há também bastante do marrom que remete ao tronco das árvores ou ao solo que alimenta cada uma delas. Algumas cenas ganham toda uma nova dimensão com a combinação de cores como o momento em que o Monstro passa a conhecer melhora história de outros que vieram antes dele. É difícil não pensar no próprio conceito de Gaia ao se deparar com elas. Em um dado momento, o Monstro é cercado por linhas e substâncias que me fazem recordar de tecidos nervosos. O verde tem a intrusão do amarelo, como se uma luz ou alguma outra coisa explodisse no meio de tudo para gerar vida.

O roteiro é maravilhoso e mostra as diversas influências por trás daquilo que Moore queria dar ao Monstro. Não é somente alicerçar toda a sua estranha em um único conjunto de mitos e lendas, mas torná-lo holístico, um representante do próprio planeta cuja existência é a soma de todas as coisas. Então vamos ver o personagem mencionar cultos ameríndios em que os nativos cultuavam deuses e forças da natureza, a visão celta sobre a floresta, a tragédia que sempre acomete aqueles que representam as forças do Verde. Moore cria camadas em cima de camadas e não explora todas, deixando muita coisa para o leitor deduzir. Não só isso como ele oferece uma coesão ao mundo mágico da DC, algo que era uma bagunça completa. E podemos colocar essa história no pós-Crise nas Infinitas Terras, ou seja, muita coisa que o Moore criou é cânone. Pode ter tido um retcon aqui ou ali, mas no geral suas mudanças continuam porque elas fazem sentido. Diga-se de passagem, a versão que ele dá para o Constantine é uma das minhas favoritas ao lado da do Garth Ennis. É um personagem sacana, sedutor, misterioso, mas que ao mesmo tempo quer buscar seu espaço no mundo. Não tem medo de enganar outros para conseguir seus objetivos e entende que isso faz parte do jogo. Melhor do que isso: bem e mal são, para ele, rótulos que não definem pessoas. Hoje alguém pode estar de um lado e amanhã pode ser que ela seja útil para o outro.

O Fim é tudo aquilo que o leitor espera em uma grande saga: um vilão terrível, altas apostas, riscos terríveis e vários personagens se reunindo em prol de uma causa comum. Pensa em um Vingadores Ultimato só que com personagens da magia e menos conhecidos da DC. Mesmo assim, Moore consegue levantar todos e mostrar o quanto cada um é essencial para lidar com os obstáculos. Tem muito personagem ali que ganhou nova vida nas mãos do autor como o Vingador Fantasma e a Zatanna, que era só a filha do grande mago Zatara ou a mulher que usa meias três quartos e um chapéu. Zatanna ganha camadas, tem toda a troca de indiretas com o Constantine, seu amor pelo pai, o quanto o pai é protetor e Zatanna inexperiente, apesar de poderosa. Em O Fim, apesar do Monstro ser o protagonista da HQ, ele toma meio que um segundo plano, buscando entender ainda quem é e qual é o seu papel nesse combate cósmico. Moore valoriza bastante a jornada ao invés do destino. Mesmo aqueles personagens que possuem respostas prontas e definitivas não são os certos para entender o que está de fato acontecendo. É no Monstro do Pântano, que tem dúvidas e dilemas ainda não resolvidos que a história vai se focar. Somente com ele e seu horror diante do que viu e experienciou ao longo das edições que pistas são deixadas. Moore segue muito a lógica oriental de que cada um deve encontrar seu caminho e cabe a ele apenas mostrar as possibilidades existentes. Não caba a ele te dar uma resposta pronta.

Essa edição dupla é o ápice da arte de Bissette que retorna para uma última edição e entrega tudo de si. Seus quadros estão adiadíssimos e ele mescla suas penas precisas com uma técnica de hachuras que fornece grandiosidade aos personagens. Tem até pontilhamentos que oferecem detalhes de expressões ou cenas que ganham em perspectiva. Algumas cenas são ótimas como a que reúne os dois lados do conflito lado a lado e a gente consegue ver toda uma variedade de formas e cores. Pensando que temos poucos "heróis" no confronto direto, o resto seriam elementos de seus exércitos. Bissette entrega essa variedade com as criaturas sem forma, os trolls, os demônios e outros seres bizarros. É a exploração do terror em seu último nível. Meu destaque fica para uma cena maravilhosa em que o Espectro está lutando contra a criatura sem forma e conseguimos ver o corpo bizarro do Espectro em seus detalhes e o Desafiador em baixo em uma janela circular apenas observando o quanto aquilo está completamente fora de sua alçada. As cenas ganham poder. Mesmo os quadros sendo bem padronizados, se conhecermos o modus operandi de Bissette, ainda assim eles conseguem ser impressionantes com quadros e sobrequadros, as sarjetas integrando as cenas. Tudo coopera para construir um todo harmônico e belo. Não quero contar muito porque essa é daquelas edições que a gente só aprecia e reverencia o artista. Ponto.

Um quarto volume sensacional com uma mescla de boas histórias que mostram outro lado do autor e sua grande narrativa do Gótico Americano chegando ao ápice. Moore entrega vários elementos daquilo que ele pensou para o personagem, altera todo o mundo da magia e abre as cortinas para o seu ato final onde as regras foram chutadas para o alto. Toda a sequência de artistas desta edição cooperam para tornar qualquer simples edição em algo memorável. Poderia falar horas sobre os truques artísticos de cada um, mas seria bem chato ler tanto. Stan Woch, Ron Randall, Bissette e temos até uma edição onde John Totleben atua como artista solo da edição. Isso sem mencionar o incomparável Alfredo Alcala que faz a arte-final da história que antecede Fim, O Conjuro. Spoiler: uma edição maravilhosa também. Essa saga inteira é para aqueles que amam ler quadrinhos, apreciar boa arte.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
comentários(0)comente



@fabio_entre.livros 18/07/2022

Conflagração
Este quarto volume marca um desdobramento crucial na saga do Monstro do Pântano, tanto por fazer o "Gótico americano" convergir com o cataclismo cósmico da "Crise nas Infinitas Terras" quanto por traçar uma jornada de autodescoberta para o Monstro em relação à dimensão de suas capacidades a nível planetário e (conforme visto no volume seguinte) além.
Continuando sua trip pelos horrores americanos (passando até pelo Brasil), desta vez lidando com um assassino, fantasmas e bruxos, ainda sob a duvidosa orientação de Constantine, o Monstro toma conhecimento de um plano sinistro orquestrado por uma seita que deseja aproveitar a Crise para libertar um mal primordial indizível, tipicamente lovecraftiano. Paralelamente, ele desvenda seu papel nesse esquema cósmico e é apresentado ao Parlamento das Árvores. Essa história é não apenas importantíssima para a saga, mas uma bela homenagem de Moore aos Monstros do Pântano anteriores. É também a forma definitiva de consolidar a natureza e os ciclos de origem dos elementais, ideia já esboçada em "A lição de anatomia".
A propósito, uma característica recorrente de Moore, e muito útil para fins de coerência e continuidade, é justamente essa capacidade de semear ideias, conceitos ou acontecimentos que ressoarão em algum momento mais adiante. Isso pode ser visto neste volume desde a primeira história ("E o vento trouxe"). Embora seja a menos notável da compilação, é relevante por introduzir Chester Williams, um personagem cuja relação com Abby e o próprio Monstro será de grande importância na saga daí em diante. Por outro lado, as histórias deste encadernado também funcionam como um complemento paralelo à própria "Crise nas Infinitas Terras". Enquanto a maioria dos heróis da DC enfrentavam as implicações do evento no plano físico do multiverso, o Monstro e outros personagens deslocaram-se para o plano espiritual, a fim de enfrentar a escuridão em sua origem (resultado dos acontecimentos de "Revoada de corvos").
O que se segue é um confronto no além que, se não apela para o quebra-pau da Crise "física", destaca-se pelo embate filosófico e místico entre as trevas e seus oponentes. Isso é ser épico em nível transcendental.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Bernardo Brum 10/08/2019

Essa última fase do Gótico Americano e a inserção do personagem do Monstro do Pântano da DC tem momentos impressionantes. Ainda que uma história ou outra cause a sensação de atrasar o grande arco (como Dança dos Fantasmas e Revelações), nunca deixam de trazer momentos de impacto e trazer reflexões. Para além disso, é o volume que traz "O Parlamento das Árvores", aquele momento que Moore e seus desenhistas levam a narração de quadrinhos ao limite e talvez a história mais importante do Monstro ao lado de "Lição de Anatomia" e "Rito de Primavera". Para além disso, o grande arco desmonta o épico aventureiro tradicional por Moore abordar a falha da demonstração vulgar de poder e privilegiando a própria metafísica envolvida em conflitos - e esse "anti-épico" recebe o nome de "O Fim", que leva consigo o tipo de desfecho chocante por sua ambivalência (como aconteceria depois com V de Vingança e Watchmen). Lendo fica fácil entender não só porque Moore despontou como ponta de lança da revolução artística da nona arte, como também porque viria a se tornar um dos maiores ficcionistas de sua geração.
comentários(0)comente



Paulo 27/10/2015

A saga do Monstro do Pântano está chegando ao fim. O quarto volume continua a grande trama que vem sendo tecida desde a primeira edição, mas que ganhou força de verdade no volume anterior, com a chegada de Constantine. Além das já tradicionais desventuras cheias de significado do Monstro do Pântano ao redor dos EUA, e de um Crossover com outros personagens da DC durante a Crise nas Infinitas Terras (um tanto quanto dispensável, mas que pode agradar os fãs da editora) esta edição nos brinda com a conclusão do arco co-protagonizado com Constantine. E que final fantástico: mais do que uma aventura, Moore nos brinda com ótimos questionamentos filosóficos que enriquecem tanto personagens quanto a trama finalizada neste material.
comentários(0)comente



Marcos Faria 26/06/2015

O Livro Quatro é o mais fraco da Saga até o momento. Tudo bem que tem “Revoada de Corvos” e a conclusão em grande estilo do arco “Gótico Americano”. Mas o que vem depois é o dispensável crossover com outros personagens da DC para a inserção obrigatória do Monstro na Crise nas Infinitas Terras. Não faz nenhum sentido com o resto da saga e não acrescenta quase nada ao personagem. Mesmo vistas isoladamente, são histórias pouco inspiradas no que diz respeito, por exemplo, aos diálogos, muito abaixo do padrão de qualidade de Alan Moore.

site: https://registrosdeleitura.wordpress.com/2015/06/21/a-saga-do-monstro-do-pantano-livro-quatro/
comentários(0)comente



7 encontrados | exibindo 1 a 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR