Sophia Loren 17/05/2022
Wolverine vs Estereótipos Japoneses
Acredito que para época em que foi lançado, "Eu, Wolverine" possa ter sido um marco e tanto, que inclusive ganhou a republicação no selo Marvel Essenciais recentemente.
Entretanto, para mim não foi isso tudo. Com roteiro um tanto raso e o padrão de repetição das descrições dos poderes de Logan em cada capítulo (não costumo reclamar disso, já que adoro os clássicos escritos na época do mestre Stan Lee e seus amigos que igualmente escreviam divinamente, no qual se tinha esse vício) que chegava a me dar raiva e de revirar de olhos.
O estereótipo japonês aqui é fortíssimo, o que me deixou insultada, mesmo eu não sendo japonesa. Acredito que nem seja culpa do escritor, já que era algo enraizado na cultura, pois o preconceito com pessoas asiáticas era (ainda deve ser) muito grande, no nível de que eram um dos alvos da Klu Klux Klan. Inclusive durante a Segunda Guerra, além do conflito do Eixo, os descendentes japoneses foram isolados em "campos de concentração" nos EUA, embasando ainda mais a suposta "vilania" dos asiáticos na mídia e maior aceitação à opressão a esse povo.
Nesse período, nos EUA (e antes se não me engano) quando se escrevia sobre os orientais e os desenhava, eles eram todos vilões, seguindo à risca a tradição e de que eram orgulhosos demais, tal qual representado nessa história.
Eles são sim tradicionalistas e orgulhosos, mas não nesse exagero, afinal são seres humanos. Só para citar, alguns dos kamikazes na Segunda Guerra, fugiam e se escondiam em algum canto supostamente seguro, ou então forjava dados de voos, sempre esperando não serem pegos ou o fim da guerra. Eles queriam viver, e isso era maior que o amor idolatrado pelo imperador e suas normas tradicionalistas.
Com isso, esse clichê misturado com estereótipos matou a história para mim, que conheço a cultura japonesa por consumir seus mangás e animês. Pode ser que eu não tenha conhecimento dela por inteiro, já que não moro lá, mas dá para identificar que esse país e seu povo não está sendo bem representado.
Fora isso, achei em vários momentos a história sendo mal contada, ou o personagem não era condizente com a tamanha experiência, acreditando em tudo o que falam para ele de primeira.
Os desenhos são bem simples, mas sendo de Frank Miller até me surpreendi, pois só vi aqueles rabiscos grotescos naquela HQ do Batman.
Mesmo com toda minha crítica sobre os estereótipos e má construção da história, acho que pode ser uma leitura válida, já que também é um clássico. E pode ser que vocês gostem! Essa é somente minha opinião.
Abro um parêntese aqui para aqueles que querem discutir quem matou mais na História e quem fez mais atrocidade: Nessa resenha é discutido a despersonalização cultural e em como Hollywood (não generalizando, uma grande parte, mas nem toda ela é assim) vilanifica, desde seus primórdios em suas mídias (no caso aqui citei possível início com a Segunda Guerra, de acordo com relatos e estudos de descendentes de chineses. É possível encontrar facilmente um relato e o artigo no final quadrinho "Superman Esmaga Klan" onde expilca mais um pouco sobre isso), faz com a cultura asiática e influenciam uma ala da xenofobia no país. E não é só os japoneses, chineses, coreanos que são estereotipados, mas os mexicanos, indianos, árabes, etc, também tem sua representação errônea de suas culturas.
Recomendo também que vejam o documentário "Filmes Ruins, Árabes Malvados: Como Hollywood vilificou um povo", que discute o mesmo tema, só que com o povo árabe, se quiserem entender mais sobre o tema.