raposisses 25/02/2016
Nosso querido Hawkguy, de volta e com companhia
Quando vi que Gavião Arqueiro: Minha Vida como uma Arma tinha sido lançado no Brasil gritei de alegria. Essa série é um dos meus quadrinhos favoritos, e não só é maravilhosa (e altamente premiada), como impactou em grande modo o sistema de quadrinhos da Marvel.
Esse é um quadrinho de super-herói mais focados na vida interior dos personagens, trabalhado no esquema “uma aventura por episódio” que lentamente vai formando uma história maior conforme a série avança. Além disso, tem um desenho incrível feito por David Aja, que abriu o caminho para artistas experimentais dentro da Marvel. Seu estilo é totalmente único, e o que consegue fazer com a divisão de página é inigualável.
A premissa desse Gavião Arqueiro é bem simples: nas próprias palavras de Fraction, sua série é sobre “o que Clint Barton faz quando não está ocupado sendo um Vingador.” É claro, mesmo quando está de folga do trabalho, por assim dizer, um super-herói nunca para de salvar o mundo; mas ao invés de supervilões de outras galáxias, dessa vez salvar o mundo significa salvar um cachorro maltratado, ajudar os vizinhos do prédio onde mora, ou acabar com uma gangue local.
Esse nível “menor” de aventuras – “street level”, como dizem em inglês – pode fazer alguém que não leu Gavião Arqueiro pensar que a história não é emocionante como outros quadrinhos de super-herói, mas Fraction e Aja não deixam nada a desejar no quesito ação; as cenas de luta são várias, e todas muito bem executadas, graças ao talento que David Aja tem para quebrar e estilizar páginas. O diferencial desse Gavião Arqueiro é que, junto com a ação já esperada em quadrinhos de super-heróis, ele ainda oferece vários outros momentos: de comédia, introspecção, e emoção. É o grande ponto alto da série.
O outro grande ponto positivo é a presença de uma personagem: Kate Bishop.
Fraction e Aja fazem uma grande brincadeira com essa série. O título do quadrinho, promovido como um “solo” em seu início, é Hawkeye – Gavião Arqueiro. Logo, Clint Barton é o óbvio protagonista, certo? Certo. Porém, Clint não é o único Hawkeye em existência, e é aí que entra Kate.
Kate Bishop é uma personagem de Jovens Vingadores (meu time preferido da Marvel, diga-se de passagem), que ganha o nome Hawkeye/Gaviã Arqueira quando Clint está morto (lol comics). É claro, eventualmente Clint volta à vida (lol comics), e a partir desse momento dois personagens passam a dividir o mesmo nome no universo Marvel. A primeira vez que os dois se encontram é em um especial de Jovens Vingadores (Young Avengers Presents #6, que está incluído em Gavião Arqueiro: Minha Vida como uma Arma), onde os dois formam uma certa relação de mestre e aprendiz. Assim, quando Fraction anunciou que ele estaria trazendo Kate para sua série de Gavião Arqueiro, todos pensaram (incluindo eu) que Kate se tornaria a aprendiz, a “sidekick”, de Clint. Para a surpresa de todos, não foi bem isso o que aconteceu.
Em todas as entrevistas sobre a série, Matt Fraction afirma que seu quadrinho é sobre “Hawkeye”, e como há dois deles no mundo Marvel, sua série é sobre ambos. Kate não é a aprendiz de Clint, mas sim sua parceira. A partir do momento em que Kate é introduzida, sua presença apenas cresce na narrativa, até que, a partir da edição #12, a série passa a ser alternada: uma edição sobre Clint, uma sobre Kate. Isso nunca diminui a presença de Clint na série; mas também Kate nunca é desrespeitada. Os dois formam uma parceria mutuamente beneficial (nunca caindo em romance), onde fica claro para o leitor que juntos, sua falhas e qualidades se complementam.
Gavião Arqueiro: Minha Vida Como uma Arma é o primeiro encadernado da série, juntando as edições #1 a #5 de Gavião Arqueiro e Young Avengers Presents #6. Esse primeiro volume introduz todos os personagens importantes para o resto da série: o cachorro Pizza, Kate Bishop, a gangue do agasalho de ginástica, os moradores do prédio, Whitney Frost (sim, a Madame Máscara), a misteriosa moça ruiva, entre outros. No total, Gavião Arqueiro de Fraction/Aja tem 22 edições – lançadas no Brasil entre 2013 e 2015 nos quadrinhos mensais Capitão América e Gavião Arqueiro até a edição 19 – e é coletado em quatro encadernados. Acredito que seja a intenção da Panini lançar os outros encadernados, mas pelo que eu saiba não há ainda data para o segundo volume (como sempre, pontualidade não é o ponto forte da Panini).
Se você gostou desse primeiro volume, pode ter certeza que terá apenas o que comemorar: Minha Vida Como Uma Arma pode ser incrível, mas é apenas a introdução do mundo de Matt Fraction e David Aja. A história só melhora a partir daqui.
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