Cyberpunk

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Resenhas - Cyberpunk


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Nelson 02/10/2017

Cyber Cultura
O quadrinista Rodrigo Mazer, que já havia publicado outros títulos de HQs, estreou no cenário independente com o lançamento de Cyberpunk em Agosto de 2017. Graduado em Educação Artística e atuante nas áreas de ilustração, artes plásticas e pintura, ele também leciona em escolas de artes. Residente na cidade de Sertãozinho – SP, Rodrigo é um artista bastante ativo em sua região, organizando e participando de eventos, feiras e workshops.

Pelo o que pude notar, a arte foi a característica mais elogiada em Cyberpunk. E não é para menos. As ilustrações são lindas, todo o trabalho é em preto e branco, o que causa uma forte sensação de ambientação noturna, algo comum no gênero. A influência oitentista está por toda parte, assim como as referências a diversos produtos culturais de ficção científica e cyberpunk. Cito aqui as que encontrei em minha leitura: Fahrenheit 451 (1953), Ubik (1969), Blade Runner (1982), Tron (1982), Max Headroom (1984), Akira (1988) e The Matrix (1999).

Rodrigo Mazer optou por criar uma cidade culturalmente tão diversa, que o vocabulário dos personagens tem influência de cinco diferentes línguas. Seu uso pode causar estranhamento em alguns diálogos, como quando simples palavras são substituídas por suas correspondentes estrangeiras, a exemplo dessa fala de Izidore, “Cala essa kuchi”. Esse linguajar informal deu bastante autenticidade ao modo urbano e coloquial de se comunicar, que é, inclusive, muito utilizado entre membros da gangue Cyberpunk. Minha interpretação desse recurso foi de que o mundo se encontra num estado tão avançado de globalização, que a interação frequente dessas culturas criaram esse vocabulário híbrido das ruas, também perceptíveis nos letreiros em kanji. Na terceira capa há um glossário dos termos usados em ordem quase exata de aparecimento.

A tecnologia em Cyberpunk gera uma dualidade na sociedade. Ao mesmo tempo em que as pessoas desfrutam de veículos voadores e outras tecnologias de ponta, os IT’s (aqueles que tiveram de recorrer à tecnologia de próteses e implantes) são discriminados pelo idealismo religioso descrito como “O Grande Ser”. Apesar dessa religião se mostrar fortemente influente na sociedade, sabemos pouco sobre sua origem e seus líderes.

Como a ciborguização é um elemento importante dentro do universo de Cyberpunk, é necessário retratar a escolha feita por Rodrigo na criação dos personagens. Em certa cena, ele descreve quais são as próteses e implantes de cada um [dos membros da gangue Cyberpunk], não se limitando ao velho e batido clichê dos braços mecânicos, ainda que faça uso dele. Esse aspecto pós-humano é visto ora como uma forma de melhoramento da espécie (transumanismo), ora como um fardo devido a discriminação. Esse último parte principalmente de Kimméra, que teve de recorrer a essa tecnologia após um acidente de trabalho. Uma pena que nem todo personagem teve chance de transparecer suas emoções diante dessa situação, mas o enredo trata de explorar bem a violência que essas pessoas sofrem.

Ainda sobre os personagens, a gangue formada por IT’s é uma criação um tanto niilista: não se importam com nada que não eles mesmos, pois o mundo em Cyberpunk é tão decadente que nem vale a pena se importar. Com a eleição do Presidente Único das Nações e a possibilidade de vitória de um general com intenções autocráticas, isso se torna ainda mais perceptível. A todo momento, fica claro a condição dos IT’s como seres marginalizados.

É impossível não comparar o personagem Snake a Roy Betty (de Blade Runner) e seu drama pessoal, principalmente com as revelações do clímax. Porém essa mudança no psicológico Snake em relação aos outros IT’s pode soar um tanto inesperada, apesar da grande carga emocional da situação e de sua personalidade violenta. Tal acontecimento também desencadeia as melhores cenas de ação da história!

Não posso deixar de comentar sobre a caracterização das personagens femininas, que aparecem na maior parte das vezes com roupas bem curtas, diferentemente dos homens. Confesso que não teria notado isso, não fosse pelo comentário de uma mulher diante da arte da HQ.

A arte de capa é do famoso ilustrador Renato Guedes (que já trabalhou para a DC Comics e Marvel Comics), amigo de longa data de Rodrigo. Há um pôster colorido no meio da revista, sendo essa a única coloração feita pelo próprio Mazer. Ambos – capa e pôster – são em papel couchê. O miolo, por sua vez, é em papel offset. A qualidade do material é excelente, posso atestar isso com segurança, pois meu exemplar foi bastante “castigado” e continua com aspecto de novo, ao contrário de muitos livros que tenho por aqui. As páginas não são numeradas. Há um ou dois erros de digitação que passaram pela revisão, mas nada capaz de comprometer o entendimento das frases.

Embora seja uma história fechada (one-shot), o final abre possibilidade para continuação, fato ainda não confirmado nem descartado pelo autor. O destino de Izidore e sua condição de saúde, a religião opressiva aos IT’s e o resultado da eleição do Presidente Único das Nações abrem muitos caminhos para novas possíveis tramas.

site: https://cyberculturabr.wordpress.com/2017/10/01/hq-cyberpunk/
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