Paulo 07/10/2020
Pluto Vol. 3 mantém o nível das edições anteriores e consolida o mangá como outro forte candidato a uma obra-prima dos thrillers policiais de Naoki Urasawa (autor de Monster). E mais. Pluto evidencia a capacidade narrativa de Urasawa: se em Monster temos um thriller policial de tirar fôlego, Pluto, apesar de compartilhar o mesmo gênero, tem uma narrativa mais lenta e introspectiva, e por vezes bem melancólica, mas igualmente imersiva e arrebatadora.
Com um clima estilo “Blade Runner”, este volume começa a avançar com a trama e os os mistérios apresentados nos volumes anteriores, apresentando novos personagens e dando boas pistas do que está por vir. E por mais que esta edição seja um pouco menos impactante se comparada às anteriores, Urasawa se destaca principalmente ao abordar o lado mais psicológico e humano dos personagens, através de ótimos diálogos. E é incrível como a cada volumes somos apresentados a novos personagens, que trazem a história novas subtramas interessantes, que nos mantém ainda mais viciados na leitura, através de um enredo cada vez mais complexo e diversificado.
A série também é conhecida por trazer diversas discussões para além de apenas um thriller policial, principalmente sobre os papéis dos robôs na sociedade e o preconceito velado perante eles. E esta edição dá ainda mais mostras disso: mas além de constantemente fazer perguntas como “qual a diferença entre um robô e um ser humano?” “O que nos faz humanos?”, esta edição se aprofunda em discussões sobre o preconceito velado em nossa sociedade, numa clara alegoria a discriminação de imigrantes na Europa. Além disso, Urasawa vai além, criando uma versão moderna da KKK, um grupo de extrema direita que clama pelo fim da lei dos direitos dos robôs, para tratar de diversos temas, como a manipulação da mídia e dos veículos de comunicação por parte de pessoas influentes para disseminação do ódio. Paralelo a isso, Urasawa nos faz questionar sobre o conceito de certo e errado. Afinal, nada é 100% certo e 100% errado, já que o contexto precisa ser considerado também. Robôs entendem o que é certo e o que é errado, mas entendem também as nuances entre essas duas coisas? Mas será que isso é um problema apenas dos robôs? Não estamos nós mesmos constantemente fazendo julgamento do que é certo e errado, ignorando essas mesmas nuances e o contexto que está por trás das ações das pessoas?
A construção de mundo é incrível, ainda que pegue muito emprestado de Astro Boy (por vezes, ficava parado contemplando o cenário, e imaginando a vida neste futuro utópico). E a arte de Naoki Kurasawa é linda: cenários realistas e ricos em detalhes, e personagens muito bem desenhados e expressivos. E ainda que o artista mantenha a identidade de seu traço, diferente um pouco dos de Monster.
Enfim, Pluto é recomendadíssimo para qualquer um que curte um bom thriller policial, e uma boa história de ficção científica, principalmente se você gosta do tipo de clima de Blade Runner, com um protagonista melancólico, cheio de questões, e uma narrativa que dose bem o suspense investigativo, com momentos melancólicos e contemplativos.