Samuka Marinho 19/01/2019
O PRIMEIRO FIM
Quando iniciei os clicks com a minha Nikon D600, não imaginei que o Projeto Corsários pudesse chegar até aqui: virou um livro. É o primeiro grande projeto pessoal que eu começo e consigo concluir. No meu ócio, eu já planejei fazer uma quantidade considerável de coisas que nunca conseguia finalizar até o final das férias ou a entrada de um novo job. Tudo ficava pelo caminho. Com o Corsários, eu consegui dar a prioridade necessária. Não posso dizer que eu consegui terminar, porque projetos desse tipo, depois de anos empenhados, a gente não termina, a gente abandona pra poder viver a vida, rever a rua, cuidar da saúde e retomar o convívio social.
Esse projeto é o meu primeiro ensaio fotográfico. De fato, minhas primeiras fotos. Na verdade, eu tive que fazer, pela primeira vez, uma série de coisas e, quase todas elas, sozinho. Aprendendo na prática, errando e refazendo durante o processo de produção dos figurinos, passando pela cenografia até chegar à editoração dos quadrinhos. Posso dizer até que fui muito além do engajamento.
Seria um pequeno ensaio conceitual com fotografias narrativas para o portfólio. Só que a pegada foi tão insana que excedi e muito a proposta. Depois de mais de 400 imagens finalizadas, resolvi tirar o projeto do digital e colocar no papel. Nisso, eu teria que imprimir um livro grossão, com mais de 400 páginas. Impossível! A revista em quadrinhos foi a opção que encontrei para alocar 2, 3 ou até 8 imagens em uma única página – apesar das splash pages e páginas duplas –, condensando tudo em um pouco mais de 180 páginas de história. Utilizei o “Método Marvel” nessa solução: uma sinopse guiou a narrativa das imagens, que deram margem para que os diálogos e alguns detalhes da trama fossem aplicados depois.
Pesquisei algo que evocasse um caminho que eu pudesse usar como modelo, mas não achei nada além das fotonovelas das revistas de fofoca dos anos 80. O que foi ruim, mas bom. A escassa referência editorial me fez pensar que eu estava em um caminho realmente autêntico – ou, quem sabe, foi somente uma pesquisa malfeita.
A pirataria é um tema já muito familiar a todos. O desafio foi, além de apresentar o universo das Antilhas numa ficção histórica, contextualizar a rotina dos navios piratas e mergulhar nas experiências, escolhas e objetivos dos personagens principais, expondo tudo isso no decorrer de um único dia. O livro seria dividido em 9 pequenos atos e uma parte final, com epílogo e extras da produção. Porém, durante a montagem, optei por transformar o texto introdutório em mais um ato, também como narrativa do quadrinhos, sendo este, agora, o primeiro ato de 10. Além dos recordatórios, existem um personagem narrador e, na abertura de cada ato, um texto idílico, manifestado por uma figura muito simbólica para um pirata.
A maioria dos artistas usa fotografias ou modelos vivos como referência para seus desenhos; eu, o inverso. Minha inspiração para as fotos foi a atmosfera das pinturas barrocas e os diversos planos de imagens dos quadrinhos. Como se trata de um projeto fotográfico, não foi empregado o recurso de 3D nas cenas do livro. Existem, sim, efeitos visuais, mas nada que ultrapasse o retouch e as composições digitais.
A ideia sempre foi fazer um material singular. Apesar de ser uma edição independente, eu precisava apresentar um trampo bacana. Seria um livro de arte, capa dura, com páginas com boa gramatura e um cuidado gráfico e editorial muito especial. Teria que ser um material muito foda, consequentemente, com custo bem puxado.
No início do ano de 2018, coloquei o projeto em um site de financiamento coletivo, mas não consegui fechar a meta, talvez pelo fato do valor final ser muito ambicioso para um iniciante desconhecido. Apesar disso, vejo nesse tipo de plataforma algo além da possibilidade de impressões de livros. Creio que seja, também, uma forma dinâmica de divulgação de um trabalho com uma reciprocidade potencializada entre o realizador e o consumidor, formando um interesse realmente coletivo. Sem conseguir o financiamento, tive que ser independente de verdade. Como não poderia deixar de reconhecer, ressaltando o grande poder da intenção, agradeço a todos os que torceram e se envolveram na campanha.
O Projeto Corsários foi o melhor trabalho ‘impossível’ que consegui fazer. Uma jornada incrível e desafiadora. Trabalhei determinado e fiel ao meu objetivo, e sem muita tranquilidade. Desde o início do projeto, o medo foi meu companheiro, mas nunca um amigo. Ele esteve sempre ao meu lado, me dizendo que eu estava errado por não fazer algo mais simples, básico e rápido. Certo ou errado, bom ou ruim, fiz. Só o tempo vai dizer se valeu a pena desconfiar da intenção do medo ao querer me colocar no nível de cagaço dos assombrados. Tomar decisões difíceis é importante para a vida. E realizar um projeto tão solitário e tão grande foi uma das decisões mais corajosas que tomei. Penso que: se você fizer apenas o que sempre fez, vai viver como sempre viveu – uma bênção pra quem tá acomodado. Mas, hoje, tenho a certeza de que, realmente, mar calmo não forma bons marinheiros.
Apesar de ter achado o momento ideal para tudo o que fiz, aprendi, principalmente, a nunca subestimar o valor do tempo. Agora sei que posso explorar muito mais e me preparar melhor desde o início para não fazer tudo tão incidental.
Por fim, minha imensa gratidão aos vizinhos, família e amigos que foram tão bem dedicados às encarnações de suas personagens. Muitos, no início, mesmo sem experiência, estavam bem mais à vontade do que eu durante os clicks.
Recebam de coração aberto todo esforço e ousadia empregados nessa apresentação artística, apoiando e prestigiando, também, diretamente, os quadrinhos independentes nacionais. Viaje nessa experiência.
Falem aí. Valeu!
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