Toni 19/02/2020
Três buracos [2017]
Shiko (PB, 1976-)
Mino, 2019, 128p. Capa dura. 📖
Minha admiração pela arte de Shiko começou com os painéis, murais e grafites que o artista espalhou pela capital da Paraíba. Mas além de conquistar ruas e telas, Shiko também tem feito um trabalho surpreendente no universo dos quadrinhos, da adaptação do romance O quinze (Rachel de Queiroz) à sua contribuição Piteco: Ingá para o selo Graphic MSP, de trabalhos autorais como Lavagem à este novo lançamento de terror e crítica social chamado Três buracos. O cara é arretado, como bom paraibano que é. Quem aí não o conhece ainda, deixo este convite: @chicoshiko . 📖
Três Buracos foi lançada ano passado pela editora Mino: um pouco terror psicológico, outro pouco faroeste noir, muito calor, poeira e aquela persistente inexorabilidade dos destinos pobres do interior do nordeste brasileiro. Presa à busca obsessiva por uma turmalina que seu pai escondeu antes de morrer, a garimpeira Tânia vive suspensa entre o sonho de uma vida melhor com a companheira Cleonice, longe de Três Buracos, e o pesadelo acordado de uma realidade brutal que reafirma, a cada novo dia (ou nova página), a tenacidade corrosiva da miséria. Em que medida é possível encontrar vida num lugar onde todos estão mortos? 📖
No universo de Shiko, as mulheres ganham um protagonismo que desafia, à medida que expõe, o machismo, a cultura do estupro, a desigualdade social. São criações fortes e marcantes com suas próprias agendas e vozes que questionam o status quo — a lida dos sertanejos, reduzida a três buracos (a cova, o garimpo e o puteiro), precisa ser desafiada. Afinal, como disse o jagunço Riobaldo, o que a vida quer da gente é coragem. Sobretudo o sertão. 📖