emmanuel_arankar 05/07/2023"Lady Killer, Volume 1" de Joëlle Jones e Jamie S. Rich
"Lady Killer (vol. 1)" é uma graphic novel excepcionalmente inusitada que apresenta um tom satírico, engraçado e envolvente. A colaboração brilhante entre Joëlle Jones e Jamie S. Rich nos leva a explorar um cenário norte-americano da metade do século XX, exatamente em 1950, quando as mulheres eram vistas como esposas e mães perfeitas, treinadas para cuidar da casa, marido e filhos. No entanto, essa graphic novel tem o intuito de quebrar esse paradigma profundamente enraizado.
Josie Schuller, a protagonista desta trama intrigante, desafia e satiriza o estereótipo da mulher norte-americana perfeita, cujo papel se limitava às tarefas tradicionais. Ela consegue realizar com maestria o trabalho doméstico, cuidar do marido, das duas filhas e da sogra (mesmo que esta última desconfie de seus segredos), enquanto mantém um emprego secreto como assassina de aluguel. Nem mesmo sua própria família tem conhecimento de sua profissão dupla, um aspecto que torna essa história ainda mais fascinante.
Josie trabalha para uma empresa de assassinos de aluguel, e seu chefe confia nela para os casos mais complexos. A lógica por trás disso é que ninguém suspeitaria de uma mulher como assassina, tornando-a a escolha ideal para essas missões. Além disso, Josie usa sua imagem de femme fatale para se infiltrar e se aproximar de muitos dos homens que ela tem que eliminar.
No entanto, seu chefe começa a questionar se a qualidade de Josie como esposa e mãe pode comprometer seu desempenho como assassina, desencadeando uma discussão sobre as expectativas impostas às mulheres que desejam trabalhar fora de casa. Este é um aspecto da história que ecoa questões muito relevantes na sociedade atual sobre o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal das mulheres.
Josie enfrenta ainda outro problema que infelizmente permanece relevante nos dias de hoje: o assédio de seus supervisores e patrões. Essa situação se desenrola de forma aberta e descarada, refletindo uma realidade que muitas mulheres vivenciam em seus locais de trabalho, independentemente da época.
Conforme a história se desenvolve, Josie se vê na situação precária de ser perseguida. Ela detém informações sensíveis que podem colocar tanto sua vida quanto a de sua família em risco. A forma como Josie lida com esses problemas envolve uma dose significativa de ação, sangue e luta, o que torna "Lady Killer" não apenas uma história sangrenta, mas cheia de aventura e mistério.
A ação e o mistério são componentes fundamentais desta graphic novel, mas há algo mais profundo acontecendo nas entrelinhas. À medida que acompanhamos as aventuras de Josie Schuller, percebemos que a história carrega consigo uma crítica social profunda e um olhar aguçado para as contradições da sociedade dos anos 1950.
Além da narrativa afiada, o aspecto visual de "Lady Killer" é extraordinário. Joëlle Jones traz um estilo de arte que é dinâmico e ricamente detalhado, transmitindo com maestria a atmosfera da década de 1950. Seus traços bem definidos e cores vibrantes criam uma estética retrô que se encaixa perfeitamente na história. A arte não só ilustra a ação e a história, mas também reforça a dualidade de Josie como mãe e assassina. O uso da cor desempenha um papel importante na narrativa, destacando visualmente as diferentes partes da vida de Josie.
Além disso, a graphic novel apresenta no início de cada capítulo imagens que evocam a estética da década de 1950, lembrando os comerciais e anúncios da época. Esses elementos visuais reforçam a atmosfera da narrativa, mantendo a autenticidade da era.
A edição da graphic novel também inclui uma introdução escrita por Tori Telfer, autora do livro "Lady Killers", que trata de assassinas em série. Essa introdução contextualiza o enredo e destaca os temas de gênero e poder presentes na obra.
O que torna "Lady Killer" tão fascinante é a maneira como equilibra uma narrativa séria com humor negro e satírico. A história mergulha profundamente nas questões sociais da época, mas o faz de forma cativante e muitas vezes hilária. Isso cria uma experiência de leitura que é ao mesmo tempo desafiadora e divertida, e que provoca a reflexão do leitor sobre as expectativas de gênero e as contradições da sociedade.
Em resumo, "Lady Killer (vol. 1)" é uma graphic novel que não apenas proporciona uma leitura envolvente e reflexiva, mas também desafia os estereótipos de gênero e as normas sociais da década de 1950. O trabalho artístico impressionante de Joëlle Jones complementa perfeitamente a narrativa, tornando "Lady Killer" uma experiência visualmente rica e memorável. Este é um quadrinho que equilibra com maestria a sátira, a ação e a provocação, mantendo os leitores ansiosos por descobrir as próximas façanhas da ousada Josie. "Lady Killer" é mais do que uma história de assassinato - é uma narrativa que mergulha profundamente nas contradições e desafios enfrentados pelas mulheres nos anos 1950 e continua a ressoar com questões relevantes na sociedade contemporânea.