Rafael.Montoito 21/12/2020
"Los hermanos" contra o fim do mundo
"O Eternauta" é uma HQ argentina escrita pelo autor argentino Héctor Germán Oesterheld com arte de Alberto Breccia que, não obstante ser da década de 60, desvela alguns dos problemas ainda atuais da América Latina.
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Do modo como só algumas obras atingem a atemporalidade, essa denuncia o modo como os países ricos e poderosos enxergam a América Latina por meio da narrativa sufocante de uma invasão alienígena. Primeiro cai uma neve que mata instantaneamente quem por ela é tocado e, depois, alguns poucos sobreviventes descobrem que há regiões do globo que entregaram o terceiro mundo como moeda para sua própria sobrevivência - ou seja, não apenas os alienígenas são impiedosos, mas os próprios homens são sem escrúpulos.
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A esperança é Juan Salvo, um eternauta, um viajante no tempo, que aparece para si mesmo, que em princípio não o reconhece. Ele o adverte do que irá acontecer e, quando a neve começa a cair, sua versão do tempo presente fica com seus amigos, Favalli, Lucas e Polski, todos acadêmicos, isolados com sua família, em casa, traçando estratégias de sobrevivência que culminarão numa cena fantástica no estádio da Bombonera.
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Se, à época da publicação, a história era uma metáfora para a repressão da ditadura argentina, hoje ela se presta muito à representação dos grupos intolerantes e do neoliberalismo, que esmaga os mais fracos, sejam eles pessoas ou nações.
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As ilustrações de Breccia causam estranheza ao leitor, que se perceberá "forçando os olhos" para entender algumas cenas. Talvez isso também seja parte constituinte da mensagem da obra: é difícil habituar-se e enxergar o brutal.