Num quarto de pousada, no ano caótico de 2018, uma mulher negra vive uma experiência de nominação e de significação de traumas, desejos e frustrações. Grandes temas como a política, o amor, o desejo, a morte, são revisados e renomeados, no microcosmo do quarto, com seus objetos anódinos, como um ventilador, um lençol, uma lâmpada. Como uma escrita na cabeça, a personagem expele uma enxurrada de palavras e frases cortadas, desconcertadas, quase impedidas, enquanto modo possível de expressão. Talvez porque nomear o que está por trás da angústia seja, quando possível, uma operação atravancada. Nesse sentido, repito coisas que não lembro tenta exprimir, ou melhor, espremer, do tecido da linguagem algo que não está convidado a receber, digerir e elaborar as várias camadas de sentido e de não-sentido que puder negociar com o texto e consigo mesmo.
Fotografia / Poemas, poesias