Reportagem Incompleta

Do convívio com Zélia e Jorge Amado surgiu a vontade de fazer este livro. São vinte anos de uma amizade que inclui viagens pelo mundo, conversas de fim de tarde e palavras decisivas em momentos cruciais de minha vida.

Nas muitas vezes em que vi Zélia fotografar Jorge ao lado dos amigos, pude perceber a chance que ela tinha de fazer aquelas fotos, exatamente pelo acesso a momentos que outro fotógrafo não teria. E se tivesse, não conseguiria com a mesma espontaneidade, obtida pela despretensão e pela amizade. Por compreender isso, não foram poucos os instantes em que tive que conter o meu ímpeto de fotógrafa.

Conheci boa parte dos amigos que aqui estão e presenciei muitas destas fotos. Por alguns deles tenho a maior admiração. Outros mexeram radicalmente com minha cabeça: Verger, Caetano, Mãe Menininha e Simone de Beauvoir. Sem esquecer que Zélia e Jorge fizeram o mesmo.

Por outro lado, sempre tive encanto pela vida de Jorge, por seu espírito andarilho e suas amizades sem nenhuma espécie de fronteira, capaz de reunir filósofos e carregadores de feira, mães-de-santo e artistas.

Com afeto, encanto e mais o propósito da Editora Corrupio em tirar das gavetas documentos preciosos da cultura baiana e torna-los públicos – do mesmo modo que vem sendo feito com a obra de Pierre Verger – este livro foi se desenhando, se desenhando, até acontecer.

Por diversas razões, eu e Zélia sabemos, faltam neste livro dezenas de fotos. Sempre estarão faltando. De qualquer forma, aqui está o mais importante da memória do escritor num livro que, no fundo, é um presente para Zélia, com um beijo grande.

(Arlete Soares)

Biografia, Autobiografia, Memórias