Não é preciso ser especialista para saber que a causa das cheias urbanas não se resume às chuvas acima das médias. Quando o assunto é enchente, os motivos são muitos e multidisciplinares, passando pela rápida expansão da população urbana, a impermeabilização excessiva do solo, ocupações irregulares em fundos de vale, assoreamento de rios e canais, coleta e disposição insuficientes do lixo urbano, transferência indevida de vazões, entre tantos outros fatores. Talvez a causa mais precisa das inundações no Brasil seja o fator histórico de a drenagem urbana ter sido tratada de maneira restrita ao parcelamento territorial, sendo, portanto, desvinculada do planejamento das cidades e não coordenada com os planos de saneamento básico, de uso do solo e de transportes. Prova disso é que dos 5.564 municípios brasileiros, apenas 256 possuem plano diretor de drenagem pluvial urbana. Mas há exceções. E uma delas está na capa desta edição. O que mais chama a atenção no projeto de combate às cheias da bacia do rio Ressaca, em São José dos Pinhais, no Paraná, é exatamente a visão holística que permitiu à gestão municipal orquestrar o planejamento da água, embasado em estudos e projetos técnicos, num conjunto de ações conveniadas com o Governo do Estado para inter-relacionar medidas legais, financeiras, técnicas, ambientais e sociais. Assinado pelo engenheiro Nicolau Klüppel, reconhecido pela criação de grande parte dos parques lineares que minimizaram muitos dos problemas de inundação em Curitiba, o projeto de drenagem de São José não deixa dúvidas de que enchente não se resolve com ações emergenciais, mas com medidas de longo prazo que integrem a climatologia e os comportamentos hidrológicos da área da bacia às pastas de habitação, saúde, saneamento e mobilidade.
Mirian Blanco
Engenharia