Resenhas - História da Literatura de Cordel

z..... 10/10/2016

A obra tem proposta didática, expondo de maneira sucinta as origens da literatura de cordel, renomados cordelistas, algumas obras famosas, principais editoras, perspectivas com o desenvolvimento de novas mídias e a valorização de tradições (como a xilogravura e exposição em barbantes). A primeira edição é de 2007, sendo bastante valorizada em seu segmento (o que é natural por sua caracterização histórica).

Penso assim: a obra informa, mas não diverte. Achei a linguagem muito formal, sem gracejos na sabedoria popular. O cunho didático não necessitava que tudo tivesse uma linha mais conservadora. Arriégua! Faltou uma pitada de humor, de picardia, que tornaria a leitura mais interessante. Com toda certeza. Esse é um ponto que não gostei.

Em linhas gerais, no resgate histórico há a valorização dos trovadores medievais, o costume de apresentar suas histórias nos cordeis e a chegada dessa tradição ao Brasil pelos portugueses, se popularizando entre os violeiros repentistas nordestinos. Destes, cita-se o nome do paraibano Silvino Pirauá como o pioneiro no cordel brasileiro do século XIX.

Em seguida, há o relato de vários cordelistas, sendo o mais importante Leandro de Gomes Barros (entre os séculos XIX e XX). Li algumas de suas obras e caracterizam-se pelo texto cuidadoso em informações históricas. O cordelista foi também uma espécie de repórter, como no caso da primeira guerra mundial, que é retratada jornalisticamente no cordel. Minha lista de livros tem resenhas de duas obras suas nessa disposição (acredito que tenha sido, para muitos, a única fonte de informações naquele momento).
Outro nome que resolvi registrar foi João de Athayde, pois a obra me esclareceu uma confusão que tinha. Já vi muitas que na capa tem seu nome, mas dentro está o de Leandro Gomes de Barros. A questão se justifica no fato de Athayde ter adquirido os direitos autorais de Leandro e ter se tornado o maior editor do cordel em sua época (desconheço a questão legal, mas não entendo por que as atuais editoras, depois de trocentos anos, continuam publicando as obras com essa confusão ao leitor). Não me soa bem e detesto o fato.

Sobre a citação de obras, acredito que o autor deixou a desejar nas informações do cordel do Pavão Misterioso. É simplesmente o mais famoso e mais lido, tendo também uma história mirabolante sobre o autor (sei disso por ter lido em uma edição antiga da revista Aventuras na História, se não estiver enganado). O que se aceita é a autoria à José Carmelo, mas um certo Melchiades teria se apossado do texto e assim temos uma outra versão circulando com seu nome. Oras, o cordel não cita nenhum desses fatos, apenas o respectivo cordel com seu reconhecido autor. Desse aspecto também não gostei.

Em relação às tradições citadas, a editora Tupynanquim deu uma derrapada feia, pois a capa deveria ser uma xilogravura. Também não curti isso. A proposta de fotos deveria estar em uma página final como a editora já fez em outras obras.
Deixo em registro que a editora Luzeiro tem também obras fantásticas e tem minha simpatia, pois já escrevi para ela em uma solicitação, no que fui bem recebido e atendido com gentileza, mesmo à distância.

Finalizando, o texto fala do cordel nos novos tempos de internet e uma coisa que faltou também, foi citar e destacar as mulheres nesse segmento. Não sei de nenhum nome, mas sei que tem cordelistas e a obra deveria valorizar isso. Vemos a citação de uma no texto, mas timidamente e deixando a dúvida se é uma personagem. Outro aspecto que não gostei.

Olha, quando digo "aspectos que não gostei" leia-se pontos que acredito que tornariam a obra mais maneira. Só a opinião de um leitor que ama, se diverte e aprende com os cordéis. E teje dito.