z..... 26/11/2017
Não conheço Marabá, município paraense, mas me interesso pela leitura sobre as cidades na Amazônia, em suas histórias e peculiaridades. Dá para estabelecer contrastes e paralelos, que apontam aspectos comuns na ocupação da região, em políticas parecidas no trato com o ambiente, população e exploração dos recursos naturais.
Encontrei esse livro por acaso em uma sala de leitura e logo me entusiasmei pelo passeio em suas páginas.
A impressão que tinha se confirmou em relação à obra, que mostra em primeiro momento o estabelecimento das populações indígenas, descrevendo em seguida a chegada dos colonizadores, conflitos, estabelecimento de cultura extrativista, exploração em larga escala de recursos naturais e impacto ambiental.
A questão indígena é bastante conflituosa nessa região e a autora traz relatos de embates que praticamente dizimaram algumas populações. Alguns desses relatos são apresentados como barbárie e tornaram-se mais evidentes a partir da década de 1920, quando iniciou a construção da Estrada de Ferro Tocantins.
No extrativismo o destaque foi para a extração do látex do caucho e exploração da castanha-do-brasil (prefiro esse nome). Os grandes empreendimentos se estabeleceram na exploração mineradora de diamante e ferro, destacando-se o empreendimento em Carajás. Repete-se o cenário comum na Amazônia de empreendimentos em grandes latifúndios, conflitos no campo, exploração da mão obra com salários mal remunerados, pressão sobre o meio ambiental e reversão de poucas benfeitorias locais em relação à riqueza explorada.
Nas peculiaridades da região, a fundação de Marabá foi em 1898, quando houve o estabelecimento de um barracão comercial no ponto de encontro entre os rios Itacaiúnas e Tocantins. O barracão tinha por nome Marabá, como uma homenagem ao poema de Gonçalves Dias. Esse aspecto geográfico é representado na bandeira municipal. Em 1913 o município foi oficializado e em 1923 Marabá foi elevada à cidade.
A história mostra conflitos que tiveram repercussão mundial, como o massacre de trabalhadores sem terra em Eldorado em 1996. A autora ressaltou que os dados mais recentes do IBGE, na época de lançamento do livro (2013), apontam o município como um dos mais violentos do país (4º) em especial em relação ao campo e à delinquência juvenil. A origem estaria nas impunidades na esfera da justiça, fiscalizações precárias e policiamento deficiente.
É uma região com muito potencial de riquezas naturais, mas também com muitos conflitos, exploração pouco sustentável e desenvolvimento desigual para a região em relação à riqueza explorada.
Aspectos que a leitura faz perceber, evidenciados pela autora (que também é estudiosa da área de história e bibliotecária).
Penso que faltou um maior destaque para a parte cultural da região. Certamente tem coisas sensacionais para descoberta e leitura.
Um registro final é que esse livro é uma segunda edição, atualizada pela autora em celebração ao centenário do município em 2013.
Valeu a leitura! Gostaria de descobrir mais coisas e quem sabe um dia visitar a região.