A Bruxa de Monte Córdova

A Bruxa de Monte Córdova



Resenhas - A Bruxa de Monte Córdova


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z..... 28/08/2018

Conhecia o "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, e essa memória foi interessante na percepção desta outra obra. Vemos elementos parecidos, mas com narrativa e foco diferenciados.

Simão e Teresa, protagonistas do "Amor", tem destino alterado por interferências externas, representadas em desavenças familiares e diferenciação de classes. No contexto, o amor advoga a favor do casal, com exposição sentimental tocante, levando o leitor à percepção do erro em sofrimentos gerados nas decisões impostas.

Tómas e Angélica, protagonistas do romance atual, apaixonados desde a infância, também tem trajetória abalada por ações externas, representadas na religiosidade que impõe a ida para o seminário ao jovem, e no arranjo deliberado dos pais da moça em escolher marido. Cenário parecido ao do romance citado, mas o foco não é o sofrimento amoroso para mostrar o erro, nada disso. Dessa vez, Camilo Castelo Branco embarca na racionalidade, focando questionamentos e ações que evidenciam as escolhas equivocadas. Argumentação encabeçada pelos protagonistas (como Tomás, que procura clarear as ideias dos que se colocam como obstáculo mostrando que não é vocacionado, em palavras e ações, e seria pessoa com fé melhor ao lado da amada), e pelo contexto de aparências, em que o autor praticamente cria um manifesto contra a corrupção na igreja, mostrando padres e seminaristas pérfidos, que também cobiçavam e assediavam Angélica em sua vila e na igreja (provavelmente com "vocação" similar ao do protagonista), gerando-se até mesmo um duelo violento entre freis, incluindo Tomás. Fica nítido a ilusão de um caminho traçado à revelia da sensatez e racionalidade.
Curioso que esse mesmo cenário continua na atualidade, e estou falando em termos gerais, com escândalos e mais escândalos, também por culpa da imposição irracional de líderes que, na prática, moldam a mensagem divina no parecer humano. É mentira que o sacerdócio elimina o casamento e essa é uma das culpas dos escândalos e fraudes escondidas, na conivência de líderes, que condenam só o que o povo descobre, sem rever o que é ensino bíblico.
Voltando ao romance, a história se constrói dessa maneira e, mesmo tendo proposta interessante, é um livro pouco carismático, sem ares românticos (apesar desse pressuposto), em que os protagonistas somem nesse meio (poderia dizer mar de lama), sem impactos ao leitor, como no caso do "Amor". Não vou omitir que não foi leitura prazerosa, com a história ficando chata, parecendo que os protagonistas são abandonados pelo autor, não tendo maiores atenções (fiquei com essa sensação).

Algo curioso, que penso ter construção proposital, está no nome do casal. Tomás de Aquino é o nome do jovem (também do famoso teólogo que chamava a atenção para harmonização entre fé e razão) e Angélica (que se opõe a visão de bruxa atribuída a ela no final, pela transformação através do sofrimento e frustrações, ao perder o filho e amado, tornando-se porta voz de mensagem que propunha escolhas racionais).

Chato, mas valeram as reflexões. Li numa versão e-book no celular, que contribuiu bastante para o marasmo na leitura.
Leia o romance e tenha suas opiniões, concordantes ou não ao que entendi.
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