z..... 19/03/2019
Não conhecia o livro e, com os destaques a termos indígenas no título e subtítulo, pensei tratar-se de romance indianista. É do século XIX e a história contada remete ao colonialismo em Minas Gerais no período setecentista.
Em verdade, a obra conta a história do Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, em uma valorização mitológica, com forte crítica social.
Registre-se que o 1729 expresso no subtítulo representa o ano em que o Tejuco tornou-se amplamente conhecido por seu potencial relacionado ao diamante, provocando profundas e impactantes transformações regionais. Detalhe que descobri em investigações no pós leitura do romance.
Esse é o encaminhamento do livro, que não destaca personagens isolados, mas o contexto transformador na região, em uma narrativa que em certos momentos parece estranha, mas nas entrelinhas tem crítica social extremamente pontual.
O autor aparenta ser politizado e humanista, seja pela defesa aos povos indígenas, seja pela defesa aos mineiros subsequentes. Esses aspectos estão evidentes principalmente nos capítulos iniciais e no final, em que tudo é envolto em estímulo crítico, construído para a provocação política.
No que se refere aos indígenas, é sabido que habitavam secularmente a região e a perda de seu território certamente esbarrou nos interesses escusos e arbitrários do colonizador. Aspecto que o livro aborda no início, em uma narrativa sensacional do embate entre a taba e colonizadores, opondo os direitos de legalidade ancestral da terra, representados sobretudo pela presença de um colossal cedro (Acayaca), testemunha e inspiração física e espiritual da força indígena. Símbolo motivacional.
O desenrolar, sem querer dar spoiler, é muito interessante, movido por um enfraquecimento na identidade e inspiração do povo. Destaque para o cacique Cururupeba no estímulo de não reação através da guerra, o que só reforça a visão politizada humanista do autor em, na história já estabelecida, provocar criticidade na melhor ação em resposta. Estímulo aqui a visão de direitos...
A história tem referências à traição, impulsividade e reflexão sobre a legitimidade da terra (obviamente de maneira subjetiva e em metáfora mitológica)
Fatos surreais se desenrolam (e como são surreais!), a terra é usurpada, transformada e chegamos ao segundo momento de relevância do livro: o olhar sobre os mineiros. Aspecto de realce no final, assemelhando-se, em termos práticos, a manifesto político contra as arbitrariedades portuguesas, chamada pelo autor de draconiana, pelo que se estabeleceu e o que imperava. Destaque para a exploração e o contexto gerado de injustiças sociais e decadência, como a prostituição e violência.
Não tem muita ação, a obra tem várias digressões, uma parte não entusiasmou enquanto narrativa romântica, mas é inegável a reflexão provocada.
Acayaca, ao final, instiga-me mais que apenas uma lendária árvore, é a inspiração aos ideais de um povo. O cedro magnífico aos indígenas do início, e depois a cristandade (mas não estou falando de sua essência, e sim dos interesses disfarçados em religião) ao colonizador que substituiu a árvore, literalmente e no mesmo lugar, pelo cruzeiro.
Seria coerente perguntar e tentar identificar sobre Acayacas da atualidade?
Um misto de esquisitice e proposta genial, em momentos de ardência e enfado literários na minha experimentação, sobretudo surpreendendo positivamente. Gostei! Valeu a leitura, feita na edição de 1894, o que também foi ponto curioso a parte.
Apesar dos pesares, o livro encerra com uma mensagem otimista.