Acayaca

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Resenhas - Acayaca


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><'',º> 01/03/2019

"Toda boa literatura tem uma história e toda boa história guarda um universo de lendas e verdades jurídicas na trajetória de pessoas em um lugar e um tempo qualquer. Assim é a releitura do romance indígena Acayca – 1729, de Joaquim Felício dos Santos, que retrata a saga de índios e homens na Diamantina Mineira dos séculos XVIII e XIX, possibilitando extrair um comovente e atual conflito de relações de direito e de fato que, por serem mal regulamentadas pela constituição brasileira, geram desigualdades sociais e em consequência, perda da plena capacidade de gozo das liberdades individuais.

O romance novelesco de Joaquim Felício dos Santos, Acayca – 1729, faz parte de um contexto histórico que se identifica com a ascensão da burguesia portuguesa em território brasileiro, quando se impõe a implantação do capitalismo, do liberalismo econômico, jurídico e filosófico. Nesta época, surge um novo público leitor, onde a arte passa a valer como mercadoria.

A literatura romântica surge em fins do século XVIII com seu apogeu na primeira metade do século XIX, tendo como características relevantes o Individualismo e o subjetivismo na busca do eu interior; o sentimentalismo na comemoração do amor e da paixão, mas também da amargura e angústia do mal do século; o culto ao mundo e aos fenômenos naturais; a idealização; à criação de mundos fantasiosos, suicidas e orgiosos; à liberdade do artista que se põe em desobediência às normas de seu tempo."

PAULO ROBERTO DE MEDEIROS
Trecho do artigo publicado na íntegra em

site: jus.com.br/artigos/20781/terra-de-homens-e-indios-um-historico-de-desigualdades-sociais-no-brasil
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z..... 19/03/2019

Não conhecia o livro e, com os destaques a termos indígenas no título e subtítulo, pensei tratar-se de romance indianista. É do século XIX e a história contada remete ao colonialismo em Minas Gerais no período setecentista.

Em verdade, a obra conta a história do Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, em uma valorização mitológica, com forte crítica social.
Registre-se que o 1729 expresso no subtítulo representa o ano em que o Tejuco tornou-se amplamente conhecido por seu potencial relacionado ao diamante, provocando profundas e impactantes transformações regionais. Detalhe que descobri em investigações no pós leitura do romance.

Esse é o encaminhamento do livro, que não destaca personagens isolados, mas o contexto transformador na região, em uma narrativa que em certos momentos parece estranha, mas nas entrelinhas tem crítica social extremamente pontual.

O autor aparenta ser politizado e humanista, seja pela defesa aos povos indígenas, seja pela defesa aos mineiros subsequentes. Esses aspectos estão evidentes principalmente nos capítulos iniciais e no final, em que tudo é envolto em estímulo crítico, construído para a provocação política.

No que se refere aos indígenas, é sabido que habitavam secularmente a região e a perda de seu território certamente esbarrou nos interesses escusos e arbitrários do colonizador. Aspecto que o livro aborda no início, em uma narrativa sensacional do embate entre a taba e colonizadores, opondo os direitos de legalidade ancestral da terra, representados sobretudo pela presença de um colossal cedro (Acayaca), testemunha e inspiração física e espiritual da força indígena. Símbolo motivacional.
O desenrolar, sem querer dar spoiler, é muito interessante, movido por um enfraquecimento na identidade e inspiração do povo. Destaque para o cacique Cururupeba no estímulo de não reação através da guerra, o que só reforça a visão politizada humanista do autor em, na história já estabelecida, provocar criticidade na melhor ação em resposta. Estímulo aqui a visão de direitos...
A história tem referências à traição, impulsividade e reflexão sobre a legitimidade da terra (obviamente de maneira subjetiva e em metáfora mitológica)

Fatos surreais se desenrolam (e como são surreais!), a terra é usurpada, transformada e chegamos ao segundo momento de relevância do livro: o olhar sobre os mineiros. Aspecto de realce no final, assemelhando-se, em termos práticos, a manifesto político contra as arbitrariedades portuguesas, chamada pelo autor de draconiana, pelo que se estabeleceu e o que imperava. Destaque para a exploração e o contexto gerado de injustiças sociais e decadência, como a prostituição e violência.

Não tem muita ação, a obra tem várias digressões, uma parte não entusiasmou enquanto narrativa romântica, mas é inegável a reflexão provocada.

Acayaca, ao final, instiga-me mais que apenas uma lendária árvore, é a inspiração aos ideais de um povo. O cedro magnífico aos indígenas do início, e depois a cristandade (mas não estou falando de sua essência, e sim dos interesses disfarçados em religião) ao colonizador que substituiu a árvore, literalmente e no mesmo lugar, pelo cruzeiro.
Seria coerente perguntar e tentar identificar sobre Acayacas da atualidade?

Um misto de esquisitice e proposta genial, em momentos de ardência e enfado literários na minha experimentação, sobretudo surpreendendo positivamente. Gostei! Valeu a leitura, feita na edição de 1894, o que também foi ponto curioso a parte.

Apesar dos pesares, o livro encerra com uma mensagem otimista.
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