Marie-José Mondzain toma a imagem como objeto ao mesmo tempo filosófico e político, um objeto em constante disputa em torno do qual são relançadas as tradicionais motivações religiosas de controle do sentido e do imaginário. Seu projeto filosófico se desdobra em reflexões sobre os modos pelos quais a própria filosofia e os atos de pensamento configuram modos específicos de enlaçar olhar, saber e verdade. Distanciando-se da semiologia – sem no entanto recusar suas contribuições –, Mondzain vem elaborando uma abordagem provocadora e rigorosa da imagem, através da qual a retomada dos pensadores bizantinos e gregos adensa a trama contemporânea de consumo e circulação do visível. Ao frisar no horizonte dessa discussão a questão da indecidibilidade e da equivocidade das imagens e das diversas formas de instrumentalização que pretendem reaprisioná-la, Mondzain coloca em diálogo a filosofia, a história da arte e as diversas disputas pelo sentido das imagens que nos atraem, nos acossam e nos excedem. Mondzain recoloca em estado de perturbação a relação entre imagem e saber, numa perspectiva crítica que dispensa o fechamento verbal da imagem baseado na ideia de plena acessibilidade do visível.
Em Sideração a autora reflete sobre a aceleração e a intermitência do olhar contemporâneo como um estado de frenesi inócuo - parente do tédio e da paralisia - organizado pela indústria do espetáculo. Sem se contentar com a denúncia de uma crise perceptiva, Mondzain aprofunda a questão e interroga a dimensão de inquietude da sideração, dimensão que estaria na origem do ato filosófico.
"Os estados de sideração organizados pela indústria do espetáculo costumam acompanhar o espetáculo anunciado e teatralizado do apocalipse. Revelação pânica de um desastre aguardado… Em outros termos, o fim está próximo, não se surpreendam! No contexto retórico da crise e de seu léxico depressivo, há um chamado ininterrupto para o sobressalto. Pergunto-me simplesmente, então, o que é feito da arte do salto, aquele que é preciso realizar quando nos arriscamos, quando resistimos à repetição ou nos colocamos em perigo para transformar um estado da matéria ou um estado do mundo. Quando para nós tudo se reduziu a querermos ou devermos nos sobressaltar, é mais um espaço de terror que se instala onde queremos ver tudo explodir, já que não podemos explodir. Os sobressaltos contínuos das comoções subjetivas das sobre-intensidades distribuídas oferecem uma espécie de imagem epiléptica da própria sociedade."
Artes / Não-ficção