"Considero Ribeyro um contista magnífico, um dos melhores da América Latina e provavelmente da língua espanhola, injustamente não reconhecido como tal."
– Mario Vargas Llosa
Escrever é para mim um ato complementar ao prazer de fumar, disse André Gide, citado numa passagem deste livro. A julgar por sua vasta produção, Julio Ramon Ribeyro não fumou pouco. Mestre peruano do conto, Ribeyro soube por em cena tanto as figuras da classe média e do aristocrático bairro limenho de Miraflores como os deserdados que até hoje proliferam nas periferias da América Latina – sejam os "urubus sem penas", isto é, garotos que sobrevivem catando lixo, ou a família que insiste em fincar raiz num barranco inóspito, feito uma planta agreste.
Entre as principais personagens deste narrador discreto, está lima e a brutal modernização da cidade no século XX, registrado com o realismo crítico que é a marca de sua geração – mas que, no seu caso, não raro se manifesta num misto de pessimismo e humor esquivo. Ribeyro chegou a chamar sua escrita, seu modo tão pessoal de observar a vida do país (e também a si mesmo, com fina auto-ironia, no conto que abre o livro), de a palavra do mudo.
Os treze contos dessa antologia – escolhidos e traduzidos por Laura Janina Hosiasson, que também é responsável pelo posfácio da edição – são representativos de diferentes momentos da produção do autor e dão prova dessa arte rara, em que a palavra às vezes parece roubar algo da poderosa expressividade do silêncio.
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