Este livro, de Carmen Oliveira, situa-se entre as obras onde identifica-se claramente o esforço para captar nexos e significações até então não percebidas em fenômenos sociais cuja complexidade é evidente. A adolescência, por exemplo, éi tratada a partir de um "olhar" que integra diferentes dimensões do fenômeno em uma síntese surpreendente. A gestão ao longo de 15 meses na FEBEM do RS trouxe para a autora, além de uma experiência difícil e tantas vezes dolorosa, o contato com uma das dimensões mais desafiadoras de nossa época - a delinqüência juvenil. Carmen Oliveira, que já havia constituído uma sólida trajetória no movimento de luta anti-manicomial no RS, pôde lidar com esse desafio permitindo que ele próprio mobilizasse seu pensamento, renovando-o. O nome FEBEM evoca um conjunto de significados possíveis. A sigla está, de qualquer forma, associada à realidade de encarceramento e maus tratos oferecida aos adolescentes internos. No que concerne à FEBEM o trabalho a ser feito exige uma "desconstrução." Tarefa das mais difíceis uma vez que a desmontagem institucional, além de dever ser orientada pela construção de novos paradigmas organizacionais - nem sempre nítidos nas pretensões de reforma - não pode prescindir dos sujeitos que, de uma forma ou de outra, foram forjados pela própria instituição. "Sobrevivendo no Inferno" é um relato apaixonado e crítico sobre um período de tempo que vai ficar na história da vida de Carmen Oliveira.