Sombras do Ilumismo desenvolve uma reflexão aguda sobre a era das incertezas. Ao analisar as ideologias “cientificistas” surgidas com o século das luzes, Manuel Soares Bulcão Neto aponta com grande poder analítico suas conseqüências e impasses.
"Em razão dos infernos que criaram, a saber, o Gulag (onde escravos russos abriam represas hidrelétricas para Rússia e, depois, suas próprias valas comuns), os campos de extermínio para onde eram levados os "espécimes subumanos patógenos que jamais deveriam ter nascido") e as cidades-sucata (com fábricas fechadas, ferrovias enferrujadas e vidas operárias arruinadas), essas caricaturescas visões "científicas" do mundo que foram o marxismo-leninismo, o social-darwinismo e o liberalismo econômico ortodoxo ensejaram uma reação antiiluminista - obscuranista, irracionalista - que se radicalizava cada vez mais. Em sua variável mais branda, tal reação se manifesta como desconfiança em relação à ciência "convencional" e numa busca por fórmulas alternativas: medicina alternativa, ciência alternativa, indústria alternativa, agricultura alternativa, sociedade alternativa, etc. Quanto a sua forma mais virulenta, expressa-se ela como fundamento religioso visionário e violento, que demoniza a ciência e sua tencnologia, salvo, é claro, a tecnologia de guerra."