Neste tabuleiro soteropolitano não tem vatapá, caruru, mungunzá nem umbu pra ioiô. Os quitutes? Outros. São sabores de poesia, de prosa. Textos que dão e pedem o amor de iaiá. Contos feito coração da baiana com sedução, canjerê, ilusão, candomblé. Narrativas que parecem jurar por Deus e pelo Senhor do Bonfim: “quero você, leitor, inteirinho pra mim”. E o que se apresenta não é um amor fugaz, enganador. É um cardápio com assuntos que envolvem e encantam. Passam pela cruel pandemia destes tempos, por conturbadas relações familiares, difíceis relações de trabalho, complexidades do sexo, vidas sem teto, prostituição miserável, problemas escolares, amores desesperançados, solidões infinitas e outros tantos temas explorados dentro de casas, apartamentos, bares, praias e ruas de Salvador. Histórias com feições e sotaques da Bahia. Que fazem lembrar ritmos, canções e cadências de tantos outros grandes artistas baianos. Compassos de arte, de sedução, de chegadas e partidas.
Nos contos desta antologia, deste menu de histórias curtas, mas com densidade, o leitor encontra um clima em que os conteúdos trazem mensagens que nas linhas e entrelinhas transmitem intenções que cantam “tudo já fiz, fui até o canjerê, pra ser feliz, meus trapinhos juntar com você”. Aqui, o canjerê é o feitiço da literatura. Os trapinhos são os textos. Mas é só um jeito de dizer. Não são trapinhos, são finos tecidos forrando e vestindo as páginas com sentidos de vida. Com diferentes visões do mundo. Seduzindo o leitor. E não é apenas uma ilusão, como diz a letra da canção do mineiro Ary Barroso que também e tão bem cantou a Bahia em suas composições musicais.
Esta coletânea de textos evidencia a voz potente de escritoras e escritores com suas narrações ora doces, ora indigestas, mas sempre com a garra daqueles que estão bastante comprometidos com a arte de narrar.
Jorge Antônio Ribeiro - Escritor
Contos