Abrir essa “caixa” foi algo que Samarone desejou durante muito tempo, mas por humildade talvez, timidez quem sabe, ou exigência poética, esperou 43 anos para concretizar. E o feito pode ser creditado à generosidade de um desconhecido, hoje amigo e confidente, que um dia visitou o endereço eletrônico www.quemerospoemas.blogspot.com (onde sem alarde eram publicados os versos do poeta desde 2005).
O nome dele é Arsênio Meira Júnior, um apaixonado estudioso, que dá a sua versão dessa história no posfácio de A Praça Azul. “Li todos os poemas em seu blog. Reli, continuo lendo, e o impacto permanece incólume”, diz Arsênio no texto.
Samarone conta que por ser muito criterioso com poesia ainda achava que ia demorar muito até publicar, até que Arsênio começou a frequentar o “quemeros”. “Era uma pessoa que eu não conhecia e começou a fazer comentários aprofundados sobre a minha escrita poética, ele entendia muito sobre o assunto.
Comecei a falar com ele por email até que nos encontramos e ele sempre repetia que eu devia publicar o livro, que não dava para esconder os poemas. Foi aumentando a amizade e a confiança e propus que ele fizesse a seleção. Ele, muito generoso, leu todos os arquivos do blog e fez a “curadoria” para a publicação de A Praça Azul”, destaca Samarone Lima.
Com Tempo de Vidro a vontade de publicar tinha levado o autor a imprimir um pequeno volume simples, filho único, que carregava com ele para aprimoramentos. Esse também foi marcado por generosidades.
“Viajei para um evento literário junto com Ronaldo Correia de Brito e entreguei o poema para que ele pudesse dar uma olhada no caminho. Ele me chamou junto, deu várias sugestões, discutiu a necessidade de cortes.
Terminei indo várias vezes à sua casa e ele ia lendo o poema em voz alta, fazendo todas as observações. Foi assim que Tempo de Vidro foi lapidado”, relembra o autor.
O posfácio de Tempo de Vidro é assinado por Lourival Holanda: “Uma das satisfações de quem trabalha com literatura é ser surpreendido pelo timbre de uma voz singular, dessas em que a gente, rápido, reconhece a evidência da poesia... Quando o tropel das evocações passa, a inteligência do poeta as agencia, seleciona, num ritmo que adormece as memórias dele – e faz sonhar as nossas.
É através da música que o poeta convoca o infante em cada um de nós, no assombro de reconhecer o estranho que a vida vai fazendo nascer em nós...”.
A ideia do escritor era lançar Tempo de Vidro, somente ele, inicialmente. Veio o encontro com Arsênio e a vontade de entregar ao público também a poesia de A Praça Azul.
Como seriam dois livros em um, em muitas conversas com a Paés para definir a edição, a decisão tomada foi de publicar dois livros separados unidos numa caixa poética. Samarone começou a escrever poesias, segundo ele mesmo, entre os 12 e 13 anos.
Tem “milhares” de cadernos repletos de versos e vários diários entremeados por poemas soltos. Conta que demorou muito para se dizer poeta, mas quando pergunto como ele gostaria de ser lembrado, nem titubeia: “como poeta”.
Na contradição tão cantada por outros, na vastidão de conter multidões, como escreveu um dia Walt Whitman, quando pergunto se hoje ele se reconhece e se diz poeta, Samarone responde com um brilho de água nos olhos: “bem baixinho”.