Teoria da literatura

Teoria da literatura Terry Eagleton


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Teoria da literatura


uma introdução




Terry Eagleton, em Teoria da Literatura: uma introdução, traça a história do estudo da literatura desde os estudiosos do século XVII até os pós-modernos das últimas décadas, fazendo uma apresentação das principais correntes teóricas do nosso século. O autor discute a questão do cânone literário, do que vem a ser literatura e do porquê de algumas obras serem denominadas literaturas e outras não.

O livro é composto de seis capítulos. No primeiro deles o autor introduz o assunto fazendo um percurso entre as literaturas de autores ingleses e franceses do século XVII para demonstrar que o conceito de literatura como a “escrita imaginativa” não é verídico; expõe o caso de obras que, no passado eram tidas como fatos e hoje são consideradas ficção e chega ao conceito lançado pelos formalistas russos, que se posicionaram como puristas ao invés de banalizar o conceito de arte.

Segundo eles, a literatura é uma transformação e intensificação da linguagem comum, logo o conteúdo motivava a forma do texto literário e a especificidade da linguagem utilizada no texto distinguia-a das outras formas de discurso. Esse conceito persistiu até a chegada do Stalinismo, que via a literatura como propaganda, focando a atenção na realidade material do texto. Os stalinistas negavam a crítica dialética por acreditar que a literatura tinha leis específicas, estruturas e mecanismos próprios e que, portanto, deveria ser estudada no âmbito individual.

De acordo com a teoria dos formalistas, o discurso literário modifica a fala comum e fazendo isso, leva o leitor a experimentar, com maior intensidade, as reações habituais que por vezes são instantâneas. Sendo assim, o caráter literário deriva das diferenças entre os tipos de discurso e, portanto, a definição de literatura depende da forma pela qual o leitor lê o texto e não da natureza do que ele está lendo. Logo, qualquer coisa pode ser literatura e qualquer literatura pode deixar de ser, tendo em vista que as obras literárias são passíveis de várias leituras e estão suscetíveis de várias modificações e/ou reescritas.



Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de literários, e a outros tal condição é imposta. Sob esse aspecto, a produção do texto é muito mais importante do que o seu nascimento. O que importa pode não ser a origem do texto, mas o modo pelo qual as pessoas o consideram. Se elas decidirem que se trata de literatura, então, ao que parece, o texto será literatura, a despeito do que o seu autor tenha pensado. (EAGLETON, 1997, p.12)



No segundo capítulo, Eagleton contextualiza a literatura na Inglaterra do século XVIII. Nessa época, a literatura era considerada como todo o conjunto de obras que a sociedade valorizava, e o que classificava uma obra em literária ou não era a ideologia da classe dominante.

Os primeiros conceitos de literatura surgiram no Romantismo e até chegar à conceituação a qual temos acesso atualmente, as formações discursivas da sociedade inglesa foram demarcadas por novos discursos e reorganizadas de forma radical. Em meio ao conturbado período da Revolução Industrial, os românticos utilizavam a literatura como forma de evasão e de exposição - ainda que dissimuladamente, da realidade social daquela época, bem como a ideologia camuflada dos autores e seus protestos às ideologias impostas. Enfim, a obra em si passa a contrastar com o cenário social, por ser espontânea e criativa.

À medida que isso acontece, os românticos passam a ser privados de toda e qualquer adequação dentre os movimentos sociais. Essa atitude acaba por acarretar um recuo para a solidão do autor e aguçar a sua criatividade; a arte passa a ser isolada das relações sociais e promovida ao cargo de “fetiche solitário” - é nesse período que surge a filosofia da arte.

Em meio ao caos instalado, era necessário algo que viesse humanizar e sufocar qualquer tendência á ações políticas coletivas, transmitindo verdades atemporais e alimentando a massa com um espírito de tolerância e generosidade; essa tarefa tornou-se função da literatura inglesa. Até os anos 20, as universidades inglesas não reconheciam a literatura inglesa como área de estudos acadêmicos, e tal disciplina era vista como uma matéria apropriada para “mulheres e homens de segunda e terceira classes”. Era considerada um tema amador em relação às disciplinas acadêmicas, "dificilmente capaz de concorrer em termos de igualdade com os rigores da Literatura Clássica e da Filosofia.”

Ao longo do século XIX, o imperialismo inglês começou a se expandir e houve a necessidade de um veículo que disseminasse os valores burgueses para as classes operárias. Esse veículo foi a literatura inglesa, que fez o prestígio dessa língua subir. A “falência da religião” é atribuída pelo autor como uma parcela significativa para esse crescimento.

No entanto, o ingresso dessa disciplina nas universidades de maior prestígio – Oxford e Cambridge, se deu com muita resistência. Foi somente com a derrubada da filologia clássica – maior oponente da literatura inglesa, que a disciplina foi introduzida no quadro das disciplinas acadêmicas dessas renomadas universidades. Os primeiros projetistas dessa nova disciplina, liderados por F. R. Leavis formaram uma escola teórica denominada Inglês de Cambridge, que influenciou decisivamente o estudo da Literatura Inglesa, até o surgimento da Nova Crítica, que defendia que a literatura era um objeto estético e não uma prática social.

No terceiro capítulo, o autor discorre sobre o estruturalismo e toma como exemplo a obra Anatomy of Criticism, de Northrop Frye para mostrar que a noção de estruturalismo está ligada à estrutura do texto. Frye acreditava que o estudo da literatura deveria valorizar a objetividade em detrimento do individualismo - no que se refere aos juízos de valores, tendo em vista que a literatura era uma “estrutura verbal autônoma” e funcionava de maneira sistemática. Para ele, esse sistema deve ser isolado de qualquer referência para que nada de externo venha infiltrar-se e suas categorias não sejam prejudicadas. "O sistema deve também expulsar qualquer história que não seja a literária: as obras literárias são feitas de outras obras literárias, e não de qualquer material estranho ao próprio sistema literário.” (EAGLETON, 1997, p. 127)

Eagleton, entretanto, manifesta sua opinião salientando que a literatura não pode ser produto do isolamento, tendo em vista que “ela nasce do sujeito coletivo da raça humana”. Sendo assim, a obra de Frye seria do ponto de vista do autor, fruto de uma utopia, uma vez que demonstra aversão à sua história e medo do mundo social.

O autor ressalta ainda a importância da relação entre os signos – leia-se significante + significado, presentes no texto e o seu caráter sincrônico. A partir dessas análises, Eagleton passa a fazer fusão entre o estruturalismo e a semiótica, uma vez que esta se ocupa de estudar sistematicamente os signos – tarefa cabível aos estruturalistas. Contudo, o estruturalismo ao apresentar suas particularidades, acaba por se denominar anti-humanista e chocar o mundo literário por sua indiferença ao individualismo.

“A obra não se refere a um objeto, nem é a expressão de um sujeito individual; ambos são eliminados, e o que resta, pendendo no ar entre eles, é um sistema de regras. Esse sistema possui existência autônoma, e não se inclinará às intenções individuais.” (EAGLETON, 1997, p.154)



Sendo assim, o estruturalismo limita-se quando não relaciona a obra com a realidade da qual está tratando, na qual está inserida e para qual está produzindo.

No quarto capítulo, o autor expõe o surgimento do pós-estruturalismo como autocrítica ao estrutralismo. Segundo ele, esse movimento veio instaurar uma teoria da desconstrução da análise literária e conseqüentemente, sujeitar o texto a uma pluralidade de sentidos. Essa desconstrução seria entendida como “uma passagem da obra para o texto”, onde não há nada que já não tenha sido escrito; tudo é fruto de uma intertextualidade; tudo é reescrito.

Para fazer a exposição dessa corrente teórica, Eagleton faz referência aos estudos do lingüista Ferdinand Saussure, com os quais ilustra a necessidade de separação entre o significado do significante.



Seria ilusão pensar que poderia estar plenamente presente ao leitor aquilo que digo ou escrevo, porque o uso dos signos sempre implica alguma dispersão das minhas significações, implica sua divisão, e o fato de que jamais serão idênticas a si mesmas em todas as ocasiões. (EAGLETON, 1997, p. 179)




Essa necessidade é procedente da suposta “instabilidade da linguagem” enquanto escrita, proposta pelos pós-estruturalistas. Com isso, surge a idéia de que a linguagem não deve ser concebida como um sistema estável e muito bem delimitado, pois todos os elementos estão interligados. Passa-se então a privilegiar o uso da fala em prejuízo à escrita, tendo em vista que através desta a impessoalidade toma conta do discurso e pode deturpar a mensagem, enquanto que aquela transmite o discurso de maneira íntima e espontânea. Daí surge a filosofia fonocêntrica – centrada na “voz viva”.

É no pós-estruturalismo que a crítica literária passa a ver a literatura como elemento capaz de formar a consciência crítica do leitor sobre a realidade do mundo. Os antes preteridos – negros, mulheres, pobres e homossexuais, passam a se fazer presentes na literatura como centro, e as produções literárias ganham caráter popular.

O mais notável propagador dessa corrente teórica foi Jacques Derrida, filósofo francês que utilizava a tática de crítica desconstrutiva para demonstrar como um texto pode embaraçar seus próprios sistemas lógicos dominantes. Os preceitos desconstrutivistas disseminados por Derrida não alcançaram o êxito desejado, mas, se tais preceitos não se concretizaram, ficou a cargo da crítica literária pós-estruturalista garantir a validade e a constância desses ideais.

No capítulo conclusivo, o autor questiona a finalidade da teoria literária e afirma que não há purismo na teoria em questão; o que há é uma “narrativa do afastamento das realidades.” Segundo ele, o papel da teoria é ponderar sobre a crítica literária e a natureza da literatura; os teóricos, críticos e professores são encarregados de preservar, ampliar, desenvolver, defender e iniciar novatos ao estudo do cânone literário.

Eagleton chega a conclusão de que não há motivos para debater a hipótese de a literatura estar relacionada ou não com a história; há é que se faça uma releitura dessa própria história. Trata-se de utilização de estratégia para analisar os efeitos ideológicos produzidos por determinados significantes de um texto literário.



Nem é provável que os textos hoje classificados como “literatura” sejam vistos e definidos da mesma maneira como o são hoje, quando tiverem sido devolvidos às formações discursivas mais amplas e profundas de que são parte. Serão inevitavelmente “reescritos”, reciclados, terão usos diferentes, serão inseridos em diferentes relações e práticas.(EAGLETON, 1997, p.292) (Fonte: http://secretalitterarum.blogspot.com.br/2011/03/resenha-do-livro-teoria-da-literatura.html)

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Como estudante de Letras, aproveitei esse livro ao máximo. É informação tanto teórica quanto política. Faz uma relação enorme sobre a tentativa de se construir uma Teoria da Literatura e as concepções políticas de cada época. Gostei e recomendo. P.S.: Deve ser complementado com leituras mais profundas e com outras visões, para não virarmos discípulos cegos de Eagleton sem escutar outras idéias.... leia mais

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