Texto de orelha de Chico Lopes
"Daniel Brazil, formado em Cinema pela USP, diretor e roteirista de vídeos premiados, escreveu histórias que manteve inéditas até que as transformou em contos em meados dos anos 2000. Relutante quanto à publicação de livros, decidiu sair da condição de contista para a de romancista com este seu primeiro livro publicado.
TERNO DE REIS, pelo título, pode sugerir um romance regionalista, com o sabor de exotismo e folclore à brasileira. Os leitores, porém, irão se surpreender com a narrativa de um contador de histórias eficaz, que retrata a vida de um interiorano, José Abade dos Reis, da paulista Amparo, num sólido regionalismo psicológico e com talento peculiar para captar cores e expressões locais. Também se surpreenderá com as sinuosidades do destino de José Abade, que se mudará para São Paulo em plena época dos festivais da Record (versos do “Alegria, alegria” de Caetano Veloso serão motes de movimentos de sua vida) e seguirá ainda as pistas magnéticas de seu atavismo em Amparo, na figura de duas mulheres: Salete e Estela. O reencontro com Salete, no contexto da ditadura militar, dará uma força dramática à vida até então pouco consciente em termos políticos e sociais de José Abade.
Nada nos prepara para a virada do romance, saindo de seu realismo quase documental em termos de captação da realidade brasileira dos anos 1960 e 1970 para um terreno de assombros. A questão da identidade, que Brazil afirma ser crucial para a sua ficção, aqui se desdobra em momentos especiais que vão revelando uma trama cada vez mais densa e imprevisível. Qualquer comentário adicional tiraria o prazer da descoberta do leitor.
Especializado em música brasileira, escreve em um site na internet especializado nas eternidades e novidades do setor, bem como o blog 'Fósforo', em que comenta sobre música, literatura e “uma pitada do resto de tudo”. Não é surpresa que tantas letras de música e tantos contatos com músicos reais (como Paulo Vanzolini e Pena Branca e Xavantinho) frequentem este romance brasileiríssimo. Ao leitor caberá saboreá-lo. Mas sem escapar da perplexidade."
Ficção / Crime / Literatura Brasileira / História do Brasil