"Posso dizer que não escrevi: fui escrito por ele." A frase enigmática usada por Caio Fernando Abreu para descrever o processo de criação de Triângulo das Águas é a porta de entrada para estas três novelas, estruturadas sobre a simbologia dos signos que a astrologia considera regidos pela emoção. Segundo o autor, "Dodecaedro" reúne o inconsciente e o caos de Peixes; "O marinheiro" trata da capacidade atribuída a Escorpião e que pode surgir da destruição de nossas redes de proteções; "Pela noite" fala da busca da afetividade maternal perdida, a paz de Câncer.
Em Triângulo das Águas, o encantador de serpentes – como Lygia Fagundes definiu o escritor gaúcho – envolve o leitor com sua prosa poética e as histórias de personagens a quem dá vida, sem abafar-lhes a originalidade da voz.
Os caminhos percorridos às cegas por cada um deles mostram um mundo brutalmente real, salvo pela linguagem e pelo onírico. Um cenário que é possível ter apenas vislumbres do que chamam de amor. em que não se tem certeza se as circunstâncias não lhe favorecem, ou é você quem não se favorece as circunstâncias; mas também, vez ou outra, a felicidade é alcançada com um livro nas mãos.
Triângulo das Águas é fruto de um período de isolamento auto-imposto do escritor no Rio de Janeiro, num quarto de hotel no bairro de Santa Teresa, após o sucesso de Morangos Mofados (1982). No entanto, São Paulo, onde Caio passou boa parte de sua vida adulta, faz-se presente na poderosa tríade que permeia estas tramas: madrugada, música e solidão.
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