Antonio Bernardo Canellas tem tudo para ser personagem de ficção - tipógrafo de origem anarquista, editor de jornais operários no início do século XX, tinha 24 anos quando desembarcou em Moscou em 1922, para o IV Congresso da Internacional Comunista. Idealista, lá descobriu que comunismo fazia rima desagradável com autoritarismo, interpelou Trotsky num debate, votou contra projetos de interesse dos 'bolcheviques'. Pelo pecado da divergência, foi vítima de um cruel expurgo, o primeiro na história do PCB. Expulso da Internacional e do partido, foi empurrado para as margens da História, de onde Iza Salles o recupera nesta reportagem apaixonada, quase um romance sobre os descaminhos das utopias do século XX.