A história do teatro no Brasil aponta, desde cedo, nomes de mulheres: são quase sempre atrizes, conhecidas por sua notável atuação nos palcos e, por vezes, na própria vida teatral brasileira, como é o caso, por exemplo, de Cacilda Becker. Ao contrário, nossa literatura dramática só conta, no passado, com raríssimos nomes de autoras teatrais. A obra que eventualmente produziram apresenta um acentuado caráter esporádico e talvez só tenha deixado tênues marcas em nosso desenvolvimento cultural: de modo geral, estreadas uma ou duas peças, o nome de suas criadoras desapareceria em nossos palcos.
Dos fins da década de 60 em diante, porém, haverá uma considerável transformação nesse panorama secular. Por razões e causas tanto históricas quanto sociais e culturais, uma plêiade significativa de escritoras, quase-uma-geração, volta-se primordialmente para o teatro e, acompanhada atentamente pela crítica e pelo público, passa a participar de forma constante e regular, com uma obra de qualidade, que se mostrou inquestionável para a ampliação e o enriquecimento de nossa produção dramatúrgica. A mulher já não está apenas presente no palco ou na platéia, mas é um dos fundamentos da arte do teatro. Abriu-se assim um novo e importante espaço público para a atuação feminina no Brasil, que é o de Um Teatro da Mulher. E ao analisar as suas autoras e obras, Elza Cunha de Vincenzo descerra em seu estudo, com as feições artísticas e intelectuais de cada uma das componentes deste grupo de dramaturgas, o espaço em que se apresenta, como conjunto, a sua visão de mundo, específica e diferente: a da mulher e, de modo particular, a da mulher de nosso tempo.