Uma introdução à história do design

Uma introdução à história do design Rafael Cardoso


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Uma introdução à história do design





O livro tem tudo para desagradar a quem chega ao assunto com idéias formadas, e cabe dizer logo de cara que ele não pretende se esquivar da tarefa de incomodar, pois questionar, subverter e até contrariar as opiniões preconcebidas fazem parte do trabalho do historiador. Quero ressaltar, porém, que o presente livro não tem a menor intenção de ser contencioso. Embora exista certamente quem irá pensar o contrário, não se pretende aqui favorecer nenhum grupo de designers, defender nenhuma facção ou movimento, privilegiar nenhum tipo de prática acima de outras. O design já é um campo prolífico em rixas e sectarismos e este livro tem como propósito maior estimular os designers a tomar consciência do riquíssimo legado histórico que têm em comum. Acima de tudo, espero que as idéias contidas nestas páginas sirvam para agregar forças e não para dispersá-las.O título do livro pode parecer um tanto genérico, e portanto normativo, mas tem como intenção enfatizar uma tomada de posição a favor da pluralidade de opiniões. Trata-se de uma introdução à história do design, dentre muitas possíveis.Não é nem de longe o único livro dessa natureza e o leitor curioso não terá dificuldades em encontrar indicações de várias outras opções na bibliografia ao final deste volume. Não se trata sequer da única introdução ao assunto disponível no Brasil. Existem pelo menos dois outros livros de nível introdutório em língua portuguesa: Desenho Industrial de John Heskett e Pioneiros do Desenho Moderno de Nikolaus Pevsner, mas, no caso do leitor se ver obrigado por questões de tempo ou dinheiro a optar por apenas um dos três, terei a ousadia de sugerir que escolha este aqui. O livro de Heskett, embora lançado recentemente entre nós, foi publicado originalmente em 1980 e, pelas muitas pesquisas importantes realizadas no campo nos últimos vinte anos, tenho certeza que seu autor seria o primeiro a admitir que não se trata de uma introdução das mais atuais. O segundo citado, embora talvez ainda seja a referência mais utilizada nas faculdades de design brasileiras, foi escrito em 1936 e atualizado pela última vez em 1960 e – sem querer desfazer das grandes qualidades do seu autor – apresentá-lo a alunos como uma introdução ao assunto equivale um pouco a oferecer Os Sertões como primeiro livro de estudo em um curso de antropologia. Por mais que seja um ‘clássico’, o livro de Pevsner apresenta uma visão da história do design inteiramente ultrapassada.Pensando bem, não é justo dizer que o presente livro não privilegia nenhum grupo de designers, pois, na verdade, ele lança um olhar escancaradamente brasileiro sobre o tema. Pretende-se que esta seja uma introdução à história do design a partir de uma perspectiva brasileira, o que também a separa das referências citadas acima. Se neste livro Joaquim Tenreiro e Aloísio Magalhães recebem mais destaque do que Marcel Breuer e Milton Glaser, não serão oferecidas desculpas por essas tendências assumidamente etnocêntricas. Não é que eu considere o nacionalismo como um valor próprio, por si só louvável, ou que, como alguns, eu tenha o hábito de me ufanar do meu país. Apenas proponho como justificativa desse procedimento a velha opinião de que a falta de conhecimento da própria cultura figura alto na lista antológica de ‘problemas do Brasil’. Por que não escrever, então, uma história do design brasileiro? Em primeiro lugar, a falta de pesquisas sobre o assunto dificulta em muito o trabalho de reconstituir de maneira isenta uma visão da evolução do campo no Brasil, até porque o corpo de saber como está constituído entre nós (a partir da narrativa pevsneriana) relega o país a uma posição marginal e tardia por definição. Em segundo lugar, a própria natureza do design, como fenômeno internacional e interdisciplinar, milita contra as versões exclusivamente nacionais da sua história. Não é à toa que, até hoje, praticamente todos os livros de introdução ao assunto têm adotado uma perspectiva múltipla.A meu ver, escrever uma história do design brasileiro é tarefa para muitos, e espero que o presente livro ajude a estabelecer alguns parâmetros para serem seguidos ou subvertidos por outros autores.Antes de encerrar este prefácio, quero dedicar mais algumas palavras ao problema da escolha do que incluir ou excluir do presente livro. Com toda certeza, cada um irá identificar trechos em que teria sido desejável dizer mais sobre algum assunto. Não é possível, evidentemente, abranger em um único volume todas as ramificações de um campo tão vasto em aplicações e variações quanto o design. Vale lembrar mais uma vez que se trata de uma introdução à história de uma atividade profissional, no seu sentido mais amplo, e não de um tratado exaustivo sobre qualquer um dos seus aspectos; portanto, o livro toca em muitos tópicos que não puderam ser desenvolvidos a fundo. Diversos temas e personagens de grande relevância para a história do design aparecem nestas páginas de forma parcial ou passageira e não há muito como solucionar essa deficiência sem desdobrar o presente volume em dois ou três ou quatro. O livro tenta atingir uma visão equilibrada do design em toda a sua multiplicidade, ressaltando os momentos de inovação e ruptura em cada uma das especialidades que compõem o campo mas sem se deter sobre os períodos de continuidade em nenhuma delas. Quanto aos designers individuais, optou-se por reduzir ao mínimo absoluto a menção de nomes que tenham se destacado após a década de 1970. Já é suficientemente difícil escrever um livro deste gênero sem assumir o encargo adicional de julgar o mérito do trabalho de profissionais ainda ativos, correndo o risco de excluir pessoas por ignorância ou de inclui-las por motivos puramente pessoais. Este não é um livro de crítica, no sentido de tentar fazer ou desfazer reputações, e portanto peço a compreensão de todos aqueles designers da atualidade cujo trabalho os habilita a uma vaga nos livros de história. Esse reconhecimento virá, sem dúvida alguma, e, bem provavelmente, em livros escritos por mãos mais capazes do que as minhas.Ofereço o texto que segue como um primeiro guia para quem quer se iniciar na história do design e, mesmo para quem já conhece bem o assunto, creio que ele trará algumas novidades. Existem, sem dúvida, muitas falhas e lacunas nas páginas a seguir e um dos objetivos deste livro é de estimular novas pesquisas e publicações que venham a corrigir umas e preencher outras. Se, ao contrariar alguns dos seus leitores e despertar a curiosidade de outros, este livro conseguir instigar a feitura de mais trabalhos sobre o tema, então terá realizado a mais importante de suas funções.

Design / História

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on 28/1/24


Um ótimo livro pra entender as relações de design no brasil, como chegamos aqui e possíveis caminhos. Perfeito para referência de autores que souberam falar sobre o design brasileiro de forma única como foi o Rafael. ... leia mais

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Hillary
editou em:
20/05/2015 12:44:39

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