Este livro trata daquela "Grande Utopia" que ainda hoje causa mais veneração que ira. Em seu nome, escravizaram-se os trabalhadores em nome da classe operária; elevaram-se traição e denúncia a virtudes revolucionárias; em nome da "verdade objetiva", da mentira, fez-se ciência, e a realidade substituiu-se pela ficção; eliminou-se a memória das pessoas e reinventou-se sua história, enquanto se lhes assegurava estarem justamente a "fazer história"; em nome do internacionalismo, isolou-se o país do mundo; em nome da liberdade, roubaram-se a milhões de pessoas sua dignidade pessoal e o avanço moral; finalmente, assassinaram-se, com consciência limpa, centenas, milhares, centenas de milhares de pessoas, atiraram-nas em covas rasas, toda manhã se as queimavam em crematórios das capitais ou se as enterravam, isoladas, na paisagem em nome da humanidade e de seu progresso.
Apesar de seus atores líderes se verem marchar na ponta do progresso tratou-se nas revoluções comunistas e fundações do Estado de reações moderno- arcaicas àquelas enormes ondas de globalização pluralização e individualização da vida que perfizeram a verdadeira revolução mundial do século 20. A razão da criação de uma União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no solo do velho império russo consistiu na tentativa de enfrentar o domínio ocidental instalado ao final da Primeira Guerra Mundial que se baseava em democracia política pluralismo social prosperidade particular livre produção de mercadorias e circulação irrestrita de capital. A saber como um anticomplexo de constituição fundamentalmente distinta supranacional caracterizada por concentração de poder ditatorial mobilização política de massas homogeneização social produção dirigida e ampla militarização - um 'mundo novo' em contraposição efetivamente antagonista ao 'velho'.
História Geral / Política