Vale Abraão

Vale Abraão Agustina Bessa-Luís


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Não obstante todas as indicações pontuais (nomes de personagens, alguns traços do enredo, uma ou outra imagem), nada menos flaubertiano do que este livro de Agustina Bessa-Luís. O que não significa que deixe de existir um intenso diálogo com a obra-prima do escritor francês. Mas é um diálogo que se dá curiosamente no avesso daquilo que caracteriza a "Madame Bovary", pois se, na obra de Flaubert, a aspiração maior fora o máximo de realidade a que corresponderia, no nível do estilo, à impessoalidade quase absoluta, no caso desta obra de Agustina Bessa-Luís, a busca central é pela expressão das dobras do imaginário que se contrapõem à realidade, dando como resultado uma escrita tumultuada e, muitas vezes, repetitiva e mesmo desorientadora.

Sendo assim, o tema do adultério da Ema portuguesa não é resultado de pressões resultantes das tensões entre o romantismo e o realismo, como acontece com a Bovary, mas antes uma afirmação de uma certa feminilidade portuguesa, destroçada pelo evolver da própria sociedade que é apanhada no trânsito entre o conservadorismo e a hipocrisia do país antes da Revolução dos Cravos e a abertura para uma globalização que aglutina os erros anteriores sob vestimentas superficiais de progresso e liberalismo. Lido com paciência e atenção, este livro constrói, para o leitor, um belo painel de conflitos em que o humano e o natural se confundem como que devorados pelas águas revoltas do Douro que banham as casas senhoriais e decadentes do Vale Abraão. (João Alexandre Barbosa).



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Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, em Amarante, ao norte de Portugal, no ano de 1922. Estreou como romancista em 1948 com "Mundo fechado". Desde então, publicou mais de cinquenta obras, entre romances, contos, crônicas de viagem e literatura infantil. Em 2004, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa. "Vale Abraão" foi adaptado para o cinema pelo português Manoel de Oliveira em 1993.



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Trecho:



"Porque Ema tinha um público, mais do que amantes, (...) E, todavia, a sua fama crescia. Fama de cortesã privada, que frequenta as artes e não os lupanares. Também aumentava nela o nervosismo, o desejo de acumular objetos, o livre jogo do epigrama, a volúpia de sugerir, mais do que praticar. Começou a acreditar que, se pusesse nisso a força do pensamento, podia obter dum homem total obediência."

Ficção / Literatura Estrangeira

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on 3/4/14


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Helena
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