E os dias passaram, menina, como não haveriam de passar? Te juro, não caberíamos mais naquela pele nova de antes, tinha um ar de coisa doce e lustrosa. Antes que arrancássemos ao dente o pouco dela que nos restou. Tu tinha um gosto de novidade que me fazia correr sem certeza alguma de onde iríamos chegar. Ouvi dizer que alguns sabores viciam e ando a buscar novidades a todo instante. O silêncio vicia, já te disse?
Reinventar o tempo enraizado dentro da própria sensação de verdade. Todas as vontades esbarram-se entre a palavra de antes e os olhos firmes de agora. O silêncio não mais nos pulsa como ponto constante de desequilíbrio, mas nos toca imperdoável, como estadia fiel do próprio estado de tentar equilibrar-se. Buscamos a permanência do lugar reconhecido como porto, antes que se perca a instabilidade reconhecida como companhia constante do tempo de antes, agora e qualquer que seja. Somos o movimento incessante das próprias descobertas. Nem mesmo a tua ilusão é a mesma quando frequenta os olhos de agora. Transição. Os olhos da gente são modificados sem piedade, Clarissa e enquanto isso, a gente tenta enxergar o desconhecido de antes. Era bom ver sem saber antes o que seria. As salivas se esbaldavam pelo gosto salgado do desconhecido. Ainda que a gente tenha se esquecido dos atalhos, te juro, menina, deve ser possível fechar esses olhos e tocar o céu.
Poemas, poesias / Romance