Verão no fim do mundo

É curiosa - para não dizer inesperada - a composição espacial dos contos que formam este conjunto a que se chamou de Verão no fim do mundo. Os contos habitam cidades que o leitor poderá localizar na região central do Rio Grande do Sul, pequenas propriedades rurais, um município (que desta vez situo no norte gaúcho) desordenado por um elemento estrangeiro; mas estas histórias também atravessam as calçadas do sul do Rio de Janeiro, a janela de um apartamento parisiense e outras faixas de terra, areia e asfalto que a cartografia corrente não alcança a delimitar com referências exatas. O espeço, no volume de Luís Augusto Farinatti, não é, por nada, secundário; mais do que pano de fundo, pode ser catalisador do enredo, gatilho de um conflito ou mesmo representação da sina destes habitantes-personagens. Personagens que estão às voltas com histórias, por assim dizer, comuns: movem-se entre a fumaça e as cores de todos os dias, mas insistem em perceber as brechas (de sentido, de fuga), em adentrar o que apenas se intui e não se deixa apreender de todo; o que, situado entre a desatenção e a tragédia, entrega uma fagulha de descobrimento. Em "Copacabana", vemos a possibilidade quase heroíca de ordenar e organizar um território gris e desmoronado; em "Noite adentro", o leitor, ao final da experiência de leitura, recordará, quem sabe, o que disse uma vez o escritor uruguaio Juan Carlos Onetti: o mais triste não é que a vida prometa coisas que jamais irá entregar - a questão é que a vida entrega, e depois nos tira. Sugiro que se percorra este livro com vagar: palavra por palavra, tempo por tempo. Isso porque o texto de Luís Augusto Farinatti está repleto de aberturas: para a liberdade e para o espanto, por exemplo. (Iuri Muller)

Contos