É em movimento oceânico que Karina Ripoli nos provoca a experimentar naufrágios. O corpo lançado ao mar da vida cotidiana, para além das anestesias. Talvez, ter vocação para naufrágios seja movimento de romper com o transe, aquele dos corredores de azulejos branquíssimos nos quais não há saída, sobretudo para a mulher, considerada excessiva. O afogamento, a imagem dos braços debatendo-se, de um outro ponto de vista pode ser a única forma de dançarmos. E Karina nos tira para dançar, mexer braços, joelhos ossudos, as entranhas salgadas. Em vocação para naufrágios, flutuamos, vamos de arrasto, embolamos em espuma e areia, enfrentamos a solidão do alto mar e o calor das tripas de um cachalote descomunal. Karina nos apresenta poesia que ironiza, gargalha, denuncia, subverte, escancara, aproxima. Nadando corpo a corpo com a palavra.
Literatura Brasileira / Poemas, poesias