Durante muito tempo algumas culturas e civilizações receberam a atenção do Ocidente como objetos de estudo, na condição de algo exótico e curioso, porque fugiam das normas da civilização Ocidental alçada à condição de 'universalidade' por força das armas e da imposição colonial. A Revolução Haitiana, por exemplo, que em 1804 fundou a primeira nação independente da América Latina e do Caribe, teve início numa cerimônia de vodou celebrada na localidade de Bwa Kayiman, em 1791, por Boukman Dutty, Cécile Fatiman - uma manbo (mãe de santo) do vodou - e duzentos fiéis. Apenas depois esse etnocentrismo europeu passou a ser desafiado criticamente por aqueles que ele pretendia excluir da categoria 'humanidade universal'. Bruxos e feiticeiros - considerados ignorantes e primitivos - conquistaram sua voz e sua vez, começando a produzir conhecimento nos moldes do discurso acadêmico. 'Vodou Haitiano - Espírito, mito e realidade' traz as reflexões de pensadores criativos e cientistas sociais, fiéis ou autoridades do vodou, cujas práticas são aprofundadas e mediadas por seu domínio do discurso científico.