Há muito não se via em quadrinhos algo tão inquietante quanto Y – O Último Homem, série do selo adulto Vertigo que instiga uma fantasia que é masculina e feminina a um só tempo, ao supor como seria a sociedade atual sem a presença de indivíduos masculinos.
O que torna Y – O Último Homem mais fascinante é que seu idealizador e roteirista, Brian K. Vaughan (indicado várias vezes ao prêmio Eisner nos últimos anos), vai até às últimas conseqüências, não se desvia das questões políticas e sociais e nem deixa perguntas sem resposta: ao morrer de repente todos os homens da Terra o caos se instala, milhares de aviões despencam, as estradas ficam atravancadas por veículos em destroços, e o mundo, subitamente órfão da maioria maciça de seus líderes, segue desgovernado. A história apocalíptica se concentra em Yorick, supostamente o único homem vivo, que está bem longe de ser um herói. Ao contrário, Yorick Brown, que apropriadamente traz o ‘Y’ (do cromossomo ‘Y’ a que se refere o título) como inicial de seu nome, é um rapaz comum, um jovem americano como outro qualquer que não percebe ou não quer assumir a tremenda responsabilidade que acidentalmente pousou sobre seus ombros; ele nem imagina o motivo de ter sido poupado, e o que mais quer é achar um meio de reencontrar a namorada que estava na Austrália quando o desastre aconteceu, isto é, a sobrevivência da humanidade pode depender de um sujeito meio abobado, do jeito como costumam ficar os homens sinceramente apaixonados.
A história de Y – O Último Homem – Rumo à Extinção, embora dramática e violenta, e até cruel, tem seus momentos inusitados de grande humor, ressaltando os estereótipos masculinos e femininos e a desarmonia natural que existe entre os sexos. É uma obra rara em originalidade, no texto inteligente e na resolução de dúvidas que usualmente ocorrem nos leitores de ficção científica. É uma questão de tempo esta obra ser levada ao cinema e / ou à TV.
O arco de histórias que está sendo editado refere-se às edições originais do número 1 ao 5; também apresenta o esmero habitual com que a Opera Graphica trata seus produtos, e Rodrigo Salem, editor-chefe da revista Set, assina um artigo sobre a obra e o autor.
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