Segundo o site Aldeia Nagô: Zanga, palavra diretamente ligada à herança das línguas africanas no Brasil, dá o tom do centro nevrálgico do primeiro livro de contos de Davi Nunes. A palavra zanga, tem obviamente seus sentidos correntes hibridizados entre uma etimologia afrocentrada e seus novos diversos sentidos adquiridos na viagem diasporica das línguas de África pelo mundo. É também esse jogo, operado por outro caminho, que nos apresenta os contos do livro Zanga: a questão da vida do negro no Brasil, pensando como a condição do negro na sociedade brasileira está nesse xadrez entre o de fora e o de dentro, ou um antes e um depois. Mas não esperem uma discussão racial que compreende a raça como seu limite absoluto, muitos são os trânsitos e direções que os contos abordam, gênero, religiosidade, genocídio da população negra. É no ziguezague entre um tema e outro, que Zanga costura a tensão racial brasileira como centro enunciativo de suas narrativas. Com escrita leve, criativa e incisiva, um arsenal vasto de personagens, e um diálogo discreto mais certeiro com contistas como Lima Barreto e Machado de Assis, o livro se caracteriza como uma das bem-acabadas obras dessa contemporaneidade literária múltipla e tensiva, que caracterizam boa parte da literatura brasileira atual.
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