Ley 25/10/2023Narrado diretamente pela vilãClassificação indicativa: +14
Joan tem 16 anos, e se sente metade de dois mundos por seu pai ser chinês e sua mãe ter sido inglesa. Ela é uma adolescente que segue todas as regras à risca, enquanto seus parentes por parte da mãe constantemente implicam com ela por ser tão certinha. Joan percebe que precisará rever tudo o que aprendeu sobre a própria família quando uma tragédia ocorre e ela descobre que na verdade é metade monstro pela parte da família de sua mãe.
Monstro é exatamente a palavra que eles se intitulam, e não são poucos. Há diversas famílias importantes nesse meio, que possuem intrigas entre si, com cada uma tendo habilidades próprias, e um dom primordial para todas. Após descobrir tudo isso do pior modo, Joan percebe que, consequentemente, ela também herdou algumas habilidades. O poder consiste em roubar tempo de vida humana para converter no equivalente a viajar no tempo. Para Joan isso é completamente inaceitável, e percebe que é por isso que a família a manteve no escuro, mesmo que alguns indícios sempre pareceram óbvios.
Ela também descobre que o garoto por quem está apaixonada é na verdade uma ameaça para os monstros, embora seja considerado um herói por ser justamente aquele que encara essas criaturas. Joan, infelizmente, não consegue respostas imediatamente, e a situação em que se encontra a obriga a correr para se salvar com um garoto cuja família é um antiga inimiga da sua. As famílias monstros se estranham entre si, então fica um clima hostil entre eles. Mas como precisam da ajuda um do outro, serão obrigados a conviver.
O livro mostra um cenário que, em um panorama geral, consiste em embates entre um herói e um vilão. Mas apesar de simplificar a situação desse modo, acaba não sendo tão simples porque a narrativa apresenta a perspectiva total do lado dos vilões. Mas Joan não é totalmente uma vilã, já que não nasceu sabendo da habilidade, e seus princípios são totalmente diferentes daquilo que essa natureza almeja. Uma das lições que vai ter que aprender é como lidar com esse dom, tendo que utilizar ele para combater o herói. Tudo na história contribui para que o centro da narrativa seja essa luta entre luz e trevas, certo e errado, e em como os dois lados podem ser cruéis.
A determinação da protagonista a acompanha por toda a história, e isso é inspirador. Em diversos momentos me senti solidarizada e torcendo por ela, mesmo que as chances tenham sido totalmente contra. O sistema acerca da viagem no tempo, junto com os dons dos monstros, são perspicazes, e achei bastante criativo, criando um sistema de magia que não favorece a protagonista, e o uso ainda deixa um rastro de destruição, e por um olhar humano, soa hediondo.
Junto com essas reflexões que o livro remete, está também em evidência o romance entre os protagonistas. Eles estão de lados totalmente opostos, e piora mais com o passar das páginas. Não vi uma solução possível para os personagens, por isso é bastante doloroso. Mas apesar disso, esses sentimentos que sentem um pelo outro, não me soaram convincentes, porque Joan já começa o livro gostando de Nick, o "herói", sem um desenvolvimento para o leitor apreciar. É como se os personagens não tivessem um ponto de partida inicialmente, e a história narrasse esse romance da metade para o final. Então senti falta daquele desenvolvimento, embora no decorrer do livro a autora encaixe algumas cenas em que eles estão no início desse contato.
Minha torcida verdadeira foi para Joan e Aaron, um garoto da família rival à da protagonista. Eles começam o livro também se odiando, mas ambos são monstros, mesmo tendo ambições diferentes, e os valores das suas famílias sejam contrários. Mas com eles, torci para que houvesse algo como romance porque com o passar das páginas, a aproximação se torna mais aparente e necessária. Com isso, eles conhecem mais um ao outro, e trocam experiências que vão ajudá-los nessa relação.
Mas embora essa tenha sido a minha torcida, o foco principal é conseguir deter o herói, mesmo que ele seja uma figura a favor dos humanos. É estranho também para o leitor estar torcendo para o lado dos monstros, em visão que eles aproveitam dos seres humanos em vários graus. Mesmo assim, minha torcida foi, na verdade, para a protagonista, que luta com determinação pela sua família, e tenta ser consciente mesmo tendo um lado monstro.
Esse é um livro super rápido, que tem algumas cenas dolorosas, mas que deixa uma brecha enorme para serem desenvolvidas em volumes futuros. O livro me lembrou alguns livros de fantasia que li na adolescência, tendo aventura, amizades, desenvolvimento de personagem, e protagonista forte. Com certeza os próximos livros terão mais respostas acerca das raízes da protagonista e das suas relações.
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https://www.imersaoliteraria.com.br/2023/08/resenha-apenas-um-monstro-livro-1.html