Nina Souza 15/04/2024
Um livro que é, de fato, um sonho
O que acontece quando um homem pobre ascende socialmente de uma forma astronômica e agora a nata da sociedade precisa lidar com um império de riqueza e poder construído por esforço e não por geração? Zachary Bronson é um homem escandaloso em todos os sentidos, e precisa de uma esposa não só para garantir sua posição na alta sociedade quanto para aquecer a sua cama.
Isso faz com que a alta sociedade não esteja preparada para o fato de que, agora, precisariam compartilhar não só os espaços públicos quanto as mulheres que supostamente não estão à altura de um homem em sua posição. E tudo piora quando Zachary se encanta com Lady Holly Taylor.
A mulher é uma jovem viúva, destinada a passar a vida obedecendo às regras sociais e que, em sua perspectiva, nunca encontrará outro homem à altura do marido para ser seu companheiro. Logo, deixa suas próprias convicções de lado para embarcar em um ciclo de luto permanente até que, numa noite, se encontra com Zachary.
O desejo é ardente e mútuo. E ela descobre que é capaz, sim, de se sentir viva novamente. Holly precisa decidir se continua a viúva exemplar ou se liberta das convenções e de tudo o que foi construída para ser para, finalmente, conseguir acreditar de novo no amor e em sua felicidade plena.
Esse foi um dos livros que eu mais gostei da autora: ter um homem que a sociedade detesta, mas é obrigada a conviver por sua inteligência, perspicácia nos negócios que estão surgindo e uma determinação implacável e uma mulher submissa à época traz um contraste interessantíssimo entre o choque de duas realidades completamente diferentes – e um amor que tem o poder de romper barreiras emocionais e ensinar tanto aos dois.
Zachary, tirando toda a sua luxúria e compensações emocionais causadas pelo vazio e pelo temperamento bruto, é um perfeito cavalheiro. A única coisa que ele não possui, de fato, é um título geracional. Um dos mocinhos com um dos corações mais bonitos que já vi em um romance de época, o que me deixou muito feliz quando ele finalmente conseguiu romper as barreiras do senso comum da época e as transformações interessantes do período: na decadência da nobreza e no surgimento da burguesia.
Os dilemas emocionais do livro são bem coerentes com os personagens, e isso faz com que Holly seja uma personagem levemente intragável. O senso moral dela é altíssimo, e isso faz com que seja muito difícil para ela lidar com o luto e com o fato de que outro poderia substituir o lugar do pai na vida de sua filha pequena. No entanto, é algo completamente fácil de compreender: o casamento dela foi por amor numa época em que os compromissos eram arranjados e cercados de indiferença. Em seus altos e baixos, Holly é, em muitos momentos, repetitiva..., mas é muito interessante pegar os detalhes em suas falas e atitudes, porque poucos livros retratam de uma maneira tão íntima e esmiuçada as diversas fases e dilemas do luto na alta sociedade.
site: instagram.com/cartografialiteraria