Jow 12/01/2012Only the weak are not lonely.[]
Do I love you, or the thought of you?
Slow, love, slow
Only the weak are not lonely
Nightwish - Slow, love, slow
Amamos aquilo que amamos. A razão não entra nisso! Sob muitos aspectos, o amor insensato é o mais verdadeiro. Qualquer um pode amar uma coisa "por causa de." É tão fácil como pôr um vintém no bolso. Mas, amar algo "apesar de", conhecer suas falhas e amá-las também, isso é raro, puro e perfeito.
A Trégua é o principal livro do uruguaio Mario Benedetti, e devo acrescentar já aqui que este é um dos melhores livros que já tive o prazer de ler nesta minha breve vida! Em formato de diário, o livro traz um enredo simples e direto, como convém às grandes histórias, executado com um primor narrativo inquestionável.
Tal diário nos conta a história de Martín Salomé, um homem beirando os 50 anos que se vê a poucos meses da sua tão sonhada aposentadoria. Viúvo há duas décadas, enquanto vê se aproximar o fim dos seus dias de trabalho burocrático numa importadora de autopeças, ele constata quanto rotineiros e previsíveis têm sido seus dias desde a morte da sua mulher. Martín não sofre pela viuvez, mas sim por sentir-se ressequido em relação às afetividades. Ao longo da narrativa revela-se a caótica relação que Martín possui com seus filhos, quantos díspares podem ser seus sentimentos paternais. Nenhum dos meus filhos se parece comigo, escreve o narrador antes de definir sua prole. Esteban, o mais arredio e mais incompreendido por Martín. Jaime, talvez seu preferido, parece sensível e inteligente, mas não honesto. E, por fim, Blanca, com quem comparte uma característica da personalidade: ela também é uma triste com vocação de alegre. Os quatro dividem a mesma casa, embora quase nunca se comuniquem. Estão unidos por uma espécie de isolamento que se complementa no coletivo.
Martín é um personagem construído com esmero. À medida que a leitura avança, descortina-se um homem inseguro, perdido na incapacidade de lidar com o tempo e em sua própria passividade em relação à vida. No entanto, tudo muda no momento em que ele encontra a jovem Laura Avellaneda, uma boa moça, de traços definidos, de gente leal. Com Laura, ele se redescobre capaz de amar de novo. Descobre que não está ressequido afetivamente, como imaginava. E se encoraja a uma mudança de vida que inclui um acordo de relação pautada na liberdade, na falta de planos e de promessas.
A Tregua é declaradamente uma história de amor. Mas ao mesmo tempo, é muito mais que isso. É uma busca, uma redenção, uma dor, é um entendimento sob si próprio sob a luz da ironia. É luz e é... Assusta-me dizer isso... Treva. A angústia de Martin nos angustia, a sua felicidade nos faz felizes, tal a capacidade de Mario Benedetti explorar os sentimentos da gente. Eu disse explorar, mas para explorar não quis dizer que tivesse de ser um livro grande e repetitivo. A Trégua é o que é, em 180 páginas de se ler em um dia.
Um livro perfeito de Mário Benedetti. Mais uma boa surpresa da Alfaguara. Mais um livro daqueles para levar por toda a vida.