O descobrimento do Brasil é um livro cujo título não remete à chegada dos portugueses. Os personagens dos contos estão tentando se encontrar em um país soterrado de tragédias, violências, perdas e injustiças. Dividido em duas partes iguais, “Nós” e “O eu no mundo”, o livro se constrói na ironia do seu título a partir de uma música da Legião Urbana. Na canção da banda brasiliense, a história de amor tem um final feliz. Trazida para as páginas desse livro, entretanto, os jovens se deparam com a realidade de um país violento. Entre o coletivo e o individual, os personagens se sustentam por linhas tênues.
“Nos doze contos que formam este O descobrimento do Brasil, Luigi Ricciardi consegue visitar alguns temas caros à sociedade contemporânea - desde a individual descoberta do corpo até o coletivo sentimento de frustração - sem nunca trair aquilo que é o mais relevante para a consecução da literatura: a linguagem. Dominando com segurança os instrumentos necessários para transformar uma história em literatura, Ricciardi nos conduz aos meandros da sociedade, com um olhar ao mesmo tempo compreensivo (empático) e crítico."
Luiz Ruffato - escritor
“As doze narrativas de O descobrimento do Brasil têm em comum uma investigação: a busca pela identidade em meio ao cotidiano opressor, que teve a violência como processo de construção (da realidade) e de inibição (da identidade).
Luigi Ricciardi vai às raízes da violência, ora depositando seu olhar na sociedade brasileira atual (em contos como “Port-au-Prince”, que abre o volume), ora na (de)formação de seus sujeitos (em contos como “Massa amorfa”, que vem logo em a seguir). Para além desse debate, o autor também logra desviar a questão identitária, capciosamente, para um território dentro do domínio da própria literatura: a ficção.
Fora os textos de musculatura mais política, há também uma preocupação com a realidade ficcional, com os artifícios passíveis de reproduzir um simulacro que é como aqueles espelhos de parque de diversão: capazes de retratar os objetos de maneira igualmente fiel, seja embelezando seja deformando, aquilo que — e sobre o que — se deseja refletir.
A literatura de Luigi Ricciardi é esse espelho: não se assuste com o seu reflexo, ele pode estar refletindo os monstros que, distraídos, não enxergamos, quando escovamos os dentes pela manhã.”
Tiago Germano - escritor
Contos